Antigamente, um craque desequilibrava um jogo. Hoje, um time precisa de dois ou três fora de série para fazer a diferença. O motivo é simples: o futebol tornou-se essencialmente coletivo e de pouco espaço à manobra individual.
Um bom jogador ajuda na atualidade, desde que ele trabalhe estritamente dentro da premissa do conjunto. Era menos penoso um sujeito diferenciado com a bola nos pés correr ao ataque e ele próprio resolver a jogada. Mas isso se foi e quase não se vê mais por aí – a possibilidade de desarme é grande e se passou a entrar na estatística de um jogador de futebol a habilidade na ação técnico-tática de recuperar a posse de bola (parecendo um jogo de basquete, que contabiliza isso há tempos de seus atletas).
O futebol atual tornou-se muito mais veloz e dinâmico. A maioria dos jogadores corre dentro de campo numa média altíssima. Esse modelo de todos estarem à disposição da bola em uma partida, chama-se disciplina coletiva.
E disciplina em campo é ordem associada ao talento e dedicação. Se o treinador tem essas características em seu time e o clube, por outro lado, entende essa importância, não há por que ficar buscando insistentemente investimento em jogador de fora, para saber se ele ainda vai dar resultado dentro da equipe.
Investir em jogador é muito positivo quando se percebe que está esfacelada a capacidade de conjunto de um time. O problema é que nem sempre um técnico e/ou dirigente consegue achar (ou quer ver) o ponto em que apostar na equipe existente pode ser a fórmula de se ter bons resultados – ao invés de ir atrás de alguém que, mesmo craque, não se sabe se fará a diferença, dentro desse contexto do futebol altamente coletivo e indivisível.
O Atlético-AC, líder de seu grupo, fez um investimento baixo para atuar na Série D do campeonato Brasileiro. Esse conjunto que vem do campeonato estadual – e deu certo – foi uma aposta com ótimo custo-benefício. Há clubes na mesma divisão que chegaram a colocar 1 milhão de reais no time e o resultado tem sido muito aquém do esperado.
É óbvio que quando se reúne muitos craques em um time, a chance de dar certo é maior. Mas quando se reúne um bom conjunto, as chances de dar certo também são boas no futebol de hoje – como o time Leicester, campeão inglês na última temporada; ou ainda a possibilidade dessa equipe surpreender, como a Islândia, na Eurocopa.