MANOEL FAÇANHA
O faro de gol aguçado, associado ao bom condicionamento físico e ao espírito guerreiro, fez do atacante Ivo Rodrigues de Albuquerque um dos grandes goleadores do futebol acreano durante mais de uma década (1984 a 2002). O ex-atleta vestiu a camisa de seis clubes da capital Rio Branco (Vasco, Rio Branco, Juventus, Atlético, Independência e Andirá) e, no seu currículo, consta não somente uma coleção de títulos no futebol profissional e amador, mas também de inúmeras artilharias (três delas no profissional), com quase 200 gols anotados.
Nascido no dia 15 de setembro de 1962, na zona rural de Rio Branco, Ivo chega aos 60 anos ainda correndo como um menino – ele, costumeiramente, realiza atividades físicas na pista do Horto Florestal. Feliz por chegar à data sexagenária com saúde, o goleador, ao lado da esposa Maria Helena, falou à nossa reportagem da vitoriosa carreira construída nos gramados acreanos. Extrovertido, o ex-artilheiro fez uma verdadeira viagem no tempo. Lembrou das peladas de infância ao lado dos irmãos, numa localidade chamada Redenção, onde vestiu a sua primeira camisa de uma equipe de futebol (Coritiba).
Com o crescimento das cidades amazônicas, no último ano da década de 1970, o pai de Ivo resolveu migrar com a família para a zona urbana de Rio Branco. No ano seguinte, o ex-atleta Antônio Neto, sobrinho de Ivo, resolveu o convidar para um período de testes na equipe de juniores do Vasco da Gama e o convite foi aceito. “Eu jamais havia passado por uma escolinha/clube de futebol e precisava me dedicar para aprender todos aqueles fundamentos da modalidade para buscar o meu espaço. Os dias se passaram e minha persistência proporcionou uma evolução na minha carreira de atleta, tanto que, anos depois, já fazia parte da equipe principal do Vasco da Gama e, na temporada de 1984, terminaria o estadual na vice-artilharia, atrás apenas do atacante estrelado Gil”, pontuou o ex-atacante Ivo.
Chegada aos quatro grandes clubes e artilharias
Os gols marcados nos primeiros anos de carreira e o bom comportamento dentro e fora dos gramados chamou a atenção do então presidente estrelado José Macedo. Um contato foi realizado e o atacante Ivo resolveu trocar a Fazendinha pelo estádio José de Melo. No Estrelão, ele ficou por três temporadas (1985/1986 e 1987). O primeiro título estadual veio no segundo ano com a camisa do clube estrelado (1986). Um ano depois, Ivo fez parte da equipe alvirrubra que ficou com o vice-campeonato do Copão da Amazônia (1987) e terminou o estadual na artilharia.
Na temporada de 1988, o atacante Ivo trocou de ares novamente e, após um contato da sua esposa e empresária com o então presidente juventino Eduardo Pinheiro Mansour (Dadinho), o martelo foi batido e Ivo foi anunciado no Clube do Povo. No Juventus, ele ficou por quatro temporadas seguidas (1988/1989/1990/1991), conquistando um bicampeonato estadual (1989/1990) e uma artilharia de estadual (1989), juntamente com Nilson Carmo (Rio Branco) e Cézar Limão (Independência), todos com quatro gols.
No ano seguinte, a convite do saudoso presidente atleticano José Humberto, o goleador resolveu deixar o Juventus para reforçar o Galo Carijó na disputa do Campeonato Acreano, Copa do Brasil (adversário foi o Atlético Mineiro) e Campeonato Brasileiro da 2ª Divisão. Os resultados não vieram e o jogador resolveu ficar apenas um ano no clube celeste.
No ano de 1993, o atacante Ivo ficou boa parte do Campeonato Acreano assistindo aos jogos das arquibancadas. Numa partida do Independência, o artilheiro fez elogios à atuação do clube de coração da esposa Maria Helena e afirmou que faltava apenas um goleador. Um dia depois, ela ligou para o então presidente do Independência, José Eugênio Leão Braga, oferecendo o futebol de Ivo. Macapá não pensou duas vezes e contratou o artilheiro para o restante do segundo turno do estadual. Na apresentação, o artilheiro foi ousado e prometeu que seria ainda o artilheiro da competição. Não deu outra: o atacante balançou as redes dos adversários por seis vezes e não somente ajudou o Independência na conquista do seu primeiro título profissional, como também fechou a competição na artilharia.
Na temporada de 1994, o Juventus, após dois anos de ausência na disputa do estadual, retornou à competição e um dos contratados foi o atacante Ivo, juntamente com o técnico Mário Vieira. Na sequência da carreira o “Velho Guerreiro” jogou ainda pelos seguintes clubes: Atlético (1995), Independência (1996/1997), Rio Branco (1998/1999), Atlético (2000) e Andirá (2002).
Seleção, melhores parceiros e volta por cima
A respeito da sua seleção ideal, o “Velho Guerreiro” não fez arrodeio e elegeu a seguinte formação: Ilzomar; Marquinhus Amor, Paulão, Chicão e Sérgio Cabeção; Gilmar, Mariceudo, Jorge Luís Jacaré, Paulo Henrique e Siqueira; Ivo. O goleiro Valtemir e os irmão Ley e Dim seriam reservas de luxo na sua seleção. Sobre o melhor dirigente do futebol local ele preferiu eleger quatro nomes: Sebastião de Melo Alencar (Rio Branco), José Eugênio de Leão Braga (Macapá), Eduardo Pinheiro Mansour e Roberto Chaar (Juventus). “Esses quatro dirigentes sempre cumpriram o que foi combinado comigo”. A respeito do melhor árbitro, ele apontou Marcus Barros Café. “O Café era um árbitro muito técnico e sabia conduzir bem uma partida de futebol”.
Quanto aos melhores parceiros em campo, Ivo citou um quarteto formado por Mariceudo, Gilmar Sales, Paulo Henrique e Jorge Luís Jacaré. “Esses caras jogavam muito e inúmeras vezes me deixaram na cara do gol”, disse sorrindo Ivo.
Na carreira, Ivo sempre foi acostumado a balançar as redes, mas algumas vezes, chegou a perder a titularidade nas equipes por onde desfilou o seu futebol. No entanto, ele até hoje lembra de um episódio ocorrido na Copa Norte de 1998, quando era uma das apostas do Rio Branco, então comandado pelo técnico Marcelo Altino. O atleta conta que estava arrebentando nos treinos, mas no duelo diante do São Raimundo/AM ficou apenas como opção do treinador. O artilheiro lembra que, restando dez minutos para o término da partida foi mandado ir a campo e marcou duas vezes na vitória, de virada, do Rio Branco por 2 a 1. “Foi uma vitória que considero até hoje como um título, não somente pelo triunfo do Rio Branco contra o timaço do São Raimundo-AM, mas também, pelo fato de mostrar que eu tinha qualidade suficiente para contribuir mais com a equipe naquela competição”.
Investir na base é um bem necessário, diz Ivo
Empresário do ramo imobiliário, Ivo explicou que o esvaziamento das arquibancadas em nossos estádios está associado a vários fatores, onde citou a falta de interesse de parte das crianças pelo futebol, que, segundo ele, a nova geração está trocando as peladas pelo celular e o vídeo game. Outro ponto não menos importante, segundo Ivo, está relacionado ao desaparecimento dos campos de várzea. Ivo também cita a falta de apoio de políticos e empresários para a fomentação do futebol.
A respeito da política para surgimento de novos craques, o ex-artilheiro disse que os clubes precisam criar receitas para que esses valores sejam investidos na base, pois caso contrário, a sobrevivência do futebol local vai ficar cada vez mais difícil. “Precisamos formar atletas não somente para deixarmos de buscar jogadores de outros centros, mas também, pensando em conseguir receitas com uma possível venda de um deles”, analisou Ivo.
Evangélico desde o início da carreira e avesso a bebidas alcoólicas, Ivo chegou durante alguns anos a administrar uma escolinha de futebol sem fins lucrativos (projeto social). Segundo ele, jogadores como Polaco e Careca, ex-Atlético Acreano, estiveram, ainda na infância, oportunidades de apreenderem um pouco do que sabe, através de suas aulas.