Jangito foi um cracaço de bola que brilhou no futebol acreano do final da década de 1960 e parte da década de 1970. Jogava como ponta de lança, posição que hoje já não mais existe nos esquemas dos mestres. Era aquele jogador que ficava mais ou menos entre o meio de campo e o ataque.
O referido futebolista nasceu no Amapá e veio para o Acre como funcionário do Banco do Brasil. Como jogava pra caramba, logo foi convidado para integrar os clubes acreanos. Primeiro, vestiu a camisa do Rio Branco. Depois se mudou para o Independência, onde fez e aconteceu.
Um dia, lá pelas tantas, um menino de pele escura, tal como o Jangito original, foi tentar a sorte no juvenil do Independência. Chamava-se Francisco Dias da Silva. Aí a turma da eterna gozação não quis nem saber o nome do menino. Alguém olhou pra ele e tascou: “Olha o filho do Jangito!”
Foi o suficiente para o menino Francisco virar Jangito para o resto da vida. Jogador de meio-campo, o Jangito “genérico” não chegou a virar unanimidade como atleta, mas vestiu com algum mérito as camisas de Independência, São Francisco, Internacional e Atlético da Apolônio Sales.
Gente boníssima, o Jangito “genérico”. Sujeito tão boa praça que chegou a passar trinta e cinco anos prestando serviços à Polícia Militar sem jamais fazer uma única prisão. Isso de acordo com relato do cronista esportivo Raimundo Fernandes, que conhece o Jangito desde muito tempo.
O Fernandes conta até um caso em que o Jangito comandava uma patrulha num bairro tido como barra pesada e deu voz de prisão a um suspeito que se esgueirava no fundo de um beco. Quando chegou perto percebeu que era um seu ex-aluno. Aí mandou o menino continuar correndo.
Pois eu encontrei o Jangito “genérico” na noite dessa quinta-feira recém passada (26), na Arena da Floresta, dirigindo a equipe sub-20 do São Francisco, contra o Rio Branco da mesma categoria, em partida válida por um torneio internacional que reune ainda uma seleção boliviana e o Galvez.
Dessa vez, o que mais chamou a minha atenção foi o fato de que o Jangito, técnico da equipe, passou o tempo todo quietinho, só murmurando palavras quase imperceptíveis, num canto do banco de reservas, enquanto o seu auxiliar, o chapa Marcelo Fontenele, se esgoelava à beira do gramado.
Curioso com aquela situação insólita (um técnico que não diz nada?), eu perguntei ao Jangito por qual motivo o auxiliar gritava enquanto ele calava. Aí o Jangito sorriu só com o canto esquerdo da boca e respondeu: “O Marcelo é meu porta-voz, professor. Eu penso e ele fala”. Simples assim.