O ex-craque João Paulo, aos 40 anos. Foto/Acervo JP Lourenço

João Paulo – Nove camisas e times de dois estados em duas décadas de bola rolando

Francisco Dandão

O ex-craque João Paulo Lourenço da Silva, nascido em Rio Branco, no dia 26 de junho de 1980, surgiu para o futebol aos 17 anos, quando foi descoberto nos campos de periferia pelo técnico Aníbal Honorato, que o levou para o elenco de juniores do São Francisco. No time católico, João Paulo ficou dois anos, alternando partidas como armador, volante e lateral.

Em 1999 surgiu a primeira oportunidade para João Paulo num clube grande. É que percebendo que a bola do garoto merecia maiores voos, o professor Aníbal tratou de leva-lo junto ao assumir o comando técnico do Atlético Acreano. E a então promessa de craque não decepcionou, tanto que a partir daí passou a ser disputado pelos melhores times do futebol do Acre.

Depois disso, pelos 17 anos seguintes (ele parou em 2018, aos 38 anos), João Paulo vestiu nove camisas: Rio Branco (clube onde permaneceu mais tempo, de forma ininterrupta), Vasco da Gama, Andirá, Grêmio Coariense (time do futebol amazonense), Independência, Juventus, São Francisco (retorno às origens), Atlético Acreano (outra passagem) e Adesg.

João Paulo disse que ficou nove anos amadurecendo a decisão de parar de jogar. “Eu comecei a pensar em pendurar as chuteiras em 2010. Mas eu ainda estava em plena forma. E aí fui ficando. Aliás, em 2018, meu último ano como atleta, jogando pelo Andirá, eu sentia que a minha condição física ainda era muito boa. Só parei mesmo porque fiquei sem tempo para treinar”.

Na temporada 2002, o volante João Paulo (ao fundo), reforçou o Vasco da Gama-AC,  do atacante Palmiro e do técnico Ulisses Torres.

Destaques do futebol acreano

João Paulo não hesitou quando lhe foi pedido para escalar os melhores jogadores do futebol acreano que ele viu em ação. Para ele, um time ideal formaria com Douglas; Ley, Dudu, Marquinhos Costa e Ananias; Ismael, Wallace, Testinha e Doka Madureira; Juliano César e Marcelo Brás. “Grandes craques e eu tive o prazer de jogar com todos eles”, afirmou.

Rio Branco FC, campeão Estadual de 2003. Em pé, da esquerda para a direita: Célio (roupeiro), Ismael, Tangará, Rozier, Davi, Diogo, Ananias, Marcão, Luís Carlos, Maurício. Segunda fila: Getúlio Pinheiro (presidente), Papelim (técnico), Máximo, Dudu, Acosta, Ben Jonson, Norton (médico), Manoel (massagista) e Natal Xavier (vice-presidente). Sentados: Diogo Elias (supervisor), Ley, Duarte, Miquinha, Ricardinho, Léo, Juliano, João Paulo, Marcelo Cabeção e Wallace. Foto/Manoel Façanha.

Na condição de melhores técnico, dirigente e árbitro, João Paulo escolheu, respectivamente, João Carlos Cavallo (“era estudioso, entendia muito de táticas e sabia orientar os seus comandados”); Sebastião Alencar (“era uma pessoa séria e cumpridora de todos os acordos”); e Marcos Café (“tanto tinha conhecimento das regras quanto pulso firme para apitar”).

Grêmio Coariense – 2005. Em pé, da esquerda para a direita: Darlan, Edson, Audi, Rai, Sidney, Fausto, Rascifran, Marinho e Lorão. Agachados: Gilberto, Vanderson, Leandro Marangon, Alberone, Anderson, Juliano César, João Paulo e Michel. Foto/Reprodução Revista Placar.

Independência – 2005. Em pé, da esquerda para a direita: Dudu, Paulinho Pitbull, Val Manaus, Bonieck, Acosta, Tom e Dorielson Mendes (treinador de goleiros). Agachados: Léo, Ciro, Neib, João Paulo e Ricardinho. Foto/Manoel Façanha.
Rio Branco – 2006. Em pé, da esquerda para a direita: Dorielson Mendes (treinador de goleiros), Amaral, Vítor, Oliveira, Rodrigo e Acosta. Agachados: Ricardinho, João Paulo, Ley, Juliano César, Doka Madureira e Dema. Foto/Manoel Façanha.

Além de todos os citados, outros dois nomes mereceram destaque nas memórias do ex-craque: Mamude e Ismael, ambos volantes. “O Mamude foi o cara que melhor me marcava. Jogar contra ele era sempre muito difícil, porque ele ficava grudado o tempo todo. E o Ismael, eu considero que foi o meu melhor parceiro. A gente se entendia muito bem”, explicou João Paulo.

Juventus – 2010. Em pé, da esquerda para a direita: Felipe, Josimar, Jefferson, Marcelo Cabeção, Henrique e Jefferson Castanheira. Agachados: Jonas, Antônio Marcos, João Paulo, Thiaguinho e Vágner. Foto/Manoel Façanha.

Quanto a jogos inesquecíveis, João Paulo recordou dois. Um deles, defendendo o Grêmio Coariense, numa decisão contra o Nacional. “Eles jogavam pelo empate e a gente estava com três jogadores expulsos. Fizemos o gol da vitória no final”, disse. E o outro jogo foi pelo Juventus, contra o Rio Branco, quando ele fez um gol entrando pelo meio da defesa adversária.

Adesg – 2011. Em pé, da esquerda para a direita: Paulo Capão (técnico), Thiago, Rogério, Bigal, Marcão, Adriano (treinador de goleiros) e Francisco Roberto (preparador físico). Agachados: Ciel, Zagallo, Platini, Anderson, Elizeu, João Paulo e Asafe. Foto/Francisco Dandão.
Andirá – 2012. Em pé, da esquerda para a direita: Mendes, Franco, Hulan, Edílio, Eduardo e Marquinhos Costa. Agachados: Rivaldo, Wellington, Jefferson, João Paulo e Messias. Foto/Francisco Dandão.
São Francisco – 2014. Em pé, da esquerda para a direita: Daniel, Jackson, Clécio, Jorge, Maikon, Xavier, Jefferson, Clayton e Alex. Agachados: João Paulo, Tom, Marquinho Paquito, Mandim, Johnatan, Carlos, Daniego e Weverton. Foto/Francisco Dandão.

A experiência como dirigente

Em 2015, embora ainda estivesse em plena atividade como atleta, João Paulo foi convidado pelo professor Afonso Alves, há muitos anos uma espécie de “faz tudo” no Andirá, para ajudá-lo na condução dos destinos do “time morcegueiro”. João Paulo resolveu topar o desafio e acabou, durante três temporadas, atuando dividido em duas frentes: jogador e presidente.

De acordo com João Paulo, foi um período de extremas dificuldades. “A ausência de estrutura do Andirá e a falta de apoio foram cruciais para a gente não avançar nada. Poucos se propõem a ajudar e ninguém se dispôs a nos dar um patrocínio. Com isso, não pudemos promover oportunidades para jovens promessas. É uma experiência que eu não quero repetir”, disse ele.

Esse apoio que faltou para o Andirá, na opinião de João Paulo, é a mesma questão que impede o Acre de subir alguns degraus na escala do futebol brasileiro. “O caminho para melhorar o futebol acreano e fazer com que os nossos times avancem é valorizar as divisões de base e convencer as empresas a investirem. Sem isso, ninguém sai jamais do lugar”, afirmou.

Mesmo com todas essas dificuldades, Joao Paulo disse acreditar que, individualmente, não é impossível que algum garoto se destaque e vença no futebol de outros estados ou países, como de vez em quando tem acontecido. “Para isso”, explicou o ex-craque, “é preciso que o candidato a jogador tenha foco e responsabilidade, acreditando que é possível realizar o seu sonho”.