Jogadores do futebol acreano sofrem com enchente no interior do estado

Goleiro Thiago Luís e meia Aliver, da Amax, precisaram deixar casas, alagadas pelas águas do Rio Acre. Atleta do Náuas, de Cruzeiro do Sul, enfrenta mesmo problema

GloboEsporte.com/ac


banner-logo-araujoXapuri e Cruzeiro do Sul, AC – O goleiro Thiago Luis, da Amax, time da primeira divisão do futebol acreano, descreveu em apenas uma afirmação como está a situação no município de, em Xapuri, a 188km de Rio Branco, por causa do alagamento do Rio Acre, que afeta, além da cidade do ex-líder seringueiro Chico Mendes, os municípios de Epitaciolândia, a capital acreana e Brasiléia, está última totalmente inundada.

– Está crítica – resumiu, em conversa por telefone, na tarde de terça-feira (24), com o GloboEsporte.com.

O atleta e o sobrinho e companheiro de clube, meia Aliver, foram obrigados a deixar as casas onde moram, próximo às margens do rio, na Rua Major Salinas. Apesar de ter a residência localizada próxima ao manancial, o arqueiro diz ter ficado surpreso com a rapidez que o nível das águas subiu. A cidade tem estado de emergência decretado desde a segunda-feira (23).

– Não estávamos esperando que fosse encher tanto assim. Muita gente nem conseguiu tirar as coisas de casa, só deixou em locais altos, em cima de mesas, andaimes. Dessa vez já passou do nível da enchente de 2012. Naquele ano, a água por pouco não entrou em casa. Agora, está no meu peito dentro de casa. Estamos na correria, desde segunda-feira fazendo mudança das coisas. Fizemos a mudança na casa dele e depois fomos para a minha casa tentar tirar o que desse – contou Thiago, que mora com mais oito pessoas na residência.

O goleiro, proprietário de uma pizzaria que também está alagada, disse que a família está abrigada na casa de uma amiga. Por causa do problema, desde sexta-feira (20) ele não consegue treinar com o elenco da Amax, que se prepara para a disputa do Campeonato Acreano, marcado para começar no domingo (1º). Segundo Thiago, o presidente do clube, Celso Garcia, o Paraná, também estaria sofrendo com a enchente, por isso não estavam em contato com frequência.

– Claro que isso atrapalha. Se a água baixar até a quinta, por exemplo, temos que fazer a limpeza das casas, voltar com as coisas que foram retiradas. Vai ser meio corrido. Vamos aguardar – afirmou.

Thiago Luiz, goleiro da Amax, que também trabalha como pizzaiolo (Foto: João Paulo Maia)
Thiago Luiz, goleiro da Amax, que também trabalha como pizzaiolo (Foto: João Paulo Maia)

Também por telefone, o presidente do Azulão de Xapuri confirmou que a equipe vai disputar o Campeonato Acreano. Ele, que quando falou com a reportagem estava retirando os objetos da residência onde mora, também atingida pelo Rio Acre, relatou que são quatro os jogadores do clube enfrentando a mesma dificuldade.

– A minha casa está só o teto do lado de fora. Sexta-feira (20) foi a última vez que o elenco treinou no campo, desde então, só academia. O estádio está sendo utilizado para abrigar pessoas que tiveram suas casas alagadas. Temos quatro jogadores que estão passando por esse mesmo problema. O Thiago Luis, Aliver, Katoze e Matheus – informou.

Em 2012, na última enchente que atingiu a cidade de Xapuri, o goleiro Thiago Luis relata que teve prejuízo de quase R$ 5 mil. De acordo com ele, pelo panorama atual, as perdas em 2015 devem ser mais significativas ainda.

– O prejuízo não vai ser pequeno não. Em 2012, foi de quase R$ 5 mil. Do jeito que está indo este ano vai ser pior. Minha casa é a mais alta da rua e contávamos que não ia entrar, mas já passou quase um metro – lamentou.

A enchente também está prejudicando a preparação do Alto Acre, último time a iniciar a pré-temporada. A cidade de Brasiléia, onde a equipe treina, foi totalmente inundada pelo Rio Acre e teve decretado estado de calamidade na última segunda-feira.

O GloboEsporte.com tentou contato com dirigentes do Papagaio da Fronteira para saber se o elenco está treinando, se a participação no estadual está confirmada, mas o município está sem comunicação via celular de três operadoras e as tentativas foram sem sucesso. Segundo informações obtidas pela reportagem, pelo menos metade dos jogadores do clube tiveram suas residências alagadas e a equipe não está treinando. O presidente João Carlos Passos e os atletas que não estão sofrendo com a cheia estariam ajudando os companheiros de clube na remoção de objetos das casas.

Na cidade de Cruzeiro do Sul, na região do Vale do Juruá, a 648km de Rio Branco, o meia do Náuas, Edvaldo Nogueira, de 26 anos, mais conhecido como Som, está com a residência sem luz desde a última terça-feira. A energia foi cortada pela empresa responsável devido as águas do Rio Juruá estarem se aproximando. Som mora com o filho de dois anos e a esposa.

Água também atinge a cidade de Epitaciolândia (Foto: Caio Fulgêncio)
Água também atinge a cidade de Epitaciolândia (Foto: Caio Fulgêncio)

– Para comermos estamos salgando os alimentos. Por enquanto, ainda não tivemos prejuízos com móveis, mas a partir do momento que a alagação aumenta isso pode ocorrer. Todo ano que tem alagação é esse sofrimento – destaca.

No fim da tarde desta quarta-feira (25), o nível do Rio Acre em Xapuri estava acima dos 17 metros, segundo estimativa da Defesa Civil do Estado. Nas cidades de Brasiléia e Epitaciolândia, o nível das águas estava em 15,12m, com sinais de vazante. Em Epitaciolândia foram 1220 pessoas afetadas, enquanto em Brasiléia, que foi 100% alagada, com os 13 bairros atingidos, são 2493 pessoas atingidas, de acordo com a Defesa Civil. Na cidade de Tarauacá, a Defesa Civil que o nível é instável. Na última medição estava em 10,60m. Os rios Iaco, em Sena Madureira, e Juruá, em Cruzeiro do Sul, transbordaram, mas ainda não obrigou a saída de famílias das casas.