Sair beijando o escudo no peito da camisa em que se está usando para comemorar um gol tornou-se gesto patético no futebol profissional. Símbolos se reverenciam quando se tem intimidade, onde se há fidelidade eterna – ou pelo menos por um período considerável. E amor clubístico hoje só se encontra em torcedores.
Ato desse tipo tornou-se incoerente nos dias atuais. Jogadores saem e entram nos clubes como se troca de camisa. Portanto, não há nexo utilizar a parte mais sagrada das vestes de um time de futebol para exaltar paixão por aquilo que se sabe que é provisório – ou temporário, embora quase sempre se tente transparecer o contrário.
Pelo menos é isso que acontece com a maioria dos jogadores que está por aí. Acabou o sentimento clubístico profundo entre os atletas. Alguns até tentam esboçar sensibilidade com isso depois que se aposentam – com raras exceções, muitos, na verdade, têm isso como forma de se manter vivo no meio do futebol, mais do que intensos traços de predileção ao time dito do coração.
Jogador do futebol mudou muito. Desde cedo tem sido orientado a desapegar desse tipo de relação com clubes para alcançar o sucesso profissional e financeiro. Os times, por outro lado, já incorporaram essa postura de indiferença.
Um atleta quer sair por aí, mudar de clubes, transacionar dinheiro, conquistar espaços diferentes, obter fama. Quanto menos vínculos menos dor de cabeça na hora de pular daqui para lá.
O negócio é manter a meta, o foco, o esforço na carreira, no trabalho, nos resultados. Profissionalismo ao máximo, com resultados ao seu pequeno núcleo de vida que cabe no umbigo. Aquela célula que se reúnem familiares e amigos – alguns de ocasião, outros de infância, poucos realmente confiáveis e verdadeiros.
Mas tudo isso não tem importância. Num mundo altamente competitivo e de relações pueris e vazias como numa tola discussão na rede social, o caminho trilhado, os recursos definidos e a vida a ser resolvida pelo atleta sobrepõem a tudo isso. O resto é que se dane.
Mas e o manto do clube e seus símbolos? Jogador, primeiro faça o seguinte: atue, se esforce, ganhe. Enriqueça a sala de troféus do time. Com isso, por certo, seus objetivos serão assegurados.
Todos os elementos relacionados ao universo estimado e inviolável do clube, construídos em décadas de história, legiões de fãs e inerentes à devoção, são destinados apenas aos leais. Portanto, jogador, beijar escudo de clube por ocasião não pega nada bem hoje.