Juliano César é um dos atletas que mais conquistou títulos pelo Rio Branco. Foto/Manoel Façanha.

Juliano César – Simplesmente o maior artilheiro do futebol acreano na era do profissionalismo

Francisco Dandão

Desde as primeiras peladas nos campinhos de várzea e nas quadras de Porto Velho (RO), o menino Jiuliano César da Conceição Silva, natural de Guajará-Mirim (RO), demonstrou um apurado faro de gol. Tanto que já no primeiro semestre de 1993, aos 15 anos (ele nasceu no dia 16 de outubro de 1977), as suas atuações o fizeram vencer os Jogos Escolares de Rondônia.

Dois anos depois, ele ingressou no seu primeiro time oficial: o Flamengo (RO). Juliano César foi aprovado numa peneira organizada pelo técnico Lourival Becão. Tinha muita gente querendo uma vaguinha no Flamengo. Juliano assumiu o comando do ataque por apenas cinco minutos. O suficiente para marcar um golzinho e ser aprovado pelo “professor Becão”.

Reserva no primeiro jogo, Juliano entrou no segundo tempo e marcou o gol da vitória. “O jogo estava empatado em 2 a 2. Recebi um cruzamento no segundo pau, dominei no peito e mandei para as redes. No segundo jogo, fiz mais dois gols. Daí pra frente já virei titular. No final das contas, no sagramos campeões sub-20 de Rondônia e eu fui o artilheiro”, disse Juliano.

Genus/RO – 2000. Em pé, da esquerda para a direita: Alcimar (preparador físico), Humberto, Wanderson, Juliano César, Pereira, Tidalzinho e Zé Roberto. Agachados: Kit, Marcinho, Val, Ananias, Fio, Marialvo e Gilmar. Foto/Acervo Manoel Façanha

 

No ano de 1997, Juliano César mudou de ares e foi vestir a camisa do time principal do Cruzeiro, também de Porto Velho. “Foi o ano em que eu conheci o nosso famoso lateral Ananias. E já no primeiro jogo, em Ji-paraná, no estádio Vera Cruz, contra um time chamado Vila Nova, eu marquei o meu primeiro gol como profissional. E nós ganhamos por 4 a 2”, afirmou Juliano.

Múltiplas camisas e gols a perder de vista

Ji-Paraná (RO) – 2000 – Em pé, da esquerda para a direita: Cascavel, Ademir (…), Edinho, (…), Dudu, Wandeson, Júlio César, Vagner, Carioquinha e Cleyton. Agachados: Nando, Adelson, Leandro, Dunante, Tangará, Juliano César, Kit, Miquinha, Ananias e Adelcio. Foto/Acervo Delvanir Leonardelli.

 

Artilheiro, Juliano passou a ser disputado pelos clubes. Dessa forma, entre 1997 e 2015, quando pendurou as chuteiras, ele vestiu várias camisas. Só na região Norte foram 14. Em Rondônia: Cruzeiro, Genus, Ji-Paraná, Ulbra e Moto Clube. No Amazonas: Rio Negro, Nacional, Grêmio Coariense e Fast Club. No Pará: Cametá. E no Acre: Rio Branco, Atlético, Galvez e Adesg.

Além destes times, ele também teve uma experiência no futebol paulista, jogando pelo Noroeste e pelo Monte Azul. Mas, de todos, foi no Rio Branco onde ele obteve maior sucesso e onde jogou durante um maior período (chegou em 2003 e saiu em 2013, com alguns intervalos), marcando quase 300 gols e conquistando nada menos do que oito títulos de campeão.

Rio Branco – 2003. Em pé, da esquerda para a direita: Máximo, Marcão, Ismael, Diogo Oliveira e Dudu. Agachados: Tangará, Ley, Juliano, Ananias, Babá e Wallace. Foto/Manoel Façanha.

 

Com a camisa do Estrelão, o ex-artilheiro confessou que viveu muitos momentos inesquecíveis. Um desses momentos, no seu dizer, foi num jogo pela Copa do Brasil, contra o Atlético Paranaense, quando ele conseguiu balançar as redes. Outro momento, de acordo com ele, foi numa final contra o Juventus, quando ele fez dois gols no Weverton na decisão do estadual de 2004, hoje goleiro do Palmeiras.

Atlético Acreano – 2014. Em pé, da esquerda para a direita: Marquinhos Costa, Wilson, Neném, Esquerdinha, Luciano e Máximo. Agachados: Ley, Eduardo, Josy, Araújo Goiano e Juliano César. Foto/Francisco Dandão
Galvez – 2015. Em pé, da esquerda para a direita: Diego, Tom, Thiago, Neném e Máximo. Agachados: Rick, Hamilton, Zagalo, Esquerdinha, Chumbo e Juliano César. Foto/Francisco Dandão.
Galvez – 2015. Em pé, da esquerda para a direita: Ico (técnico), Renato, Sávio, João Marcos, Rener, Kinho, Marinho, Renan Plácido, Cléverson, Adriano Feitosa (preparador de goleiros) e Célio Doca (auxiliar técnico). Agachados: Francisco Roberto (preparador físico), Esquerdinha, Ley, Juliano César, Ciel, Weverton, Neném. Ajoelhados: Rafael Sousa, Raulan, Gabriel, Samuel, Júnior, torcedor anônimo e Tampinha (roupeiro). Foto/Manoel Façanha

Toda essa história de amor com a bola e com as redes adversárias teve que ser interrompida em 2015, quando Juliano estava com 37 anos e defendia as cores do Imperador Galvez. É que o veterano artilheiro sofreu uma grave lesão no joelho, num jogo contra o Atlético. “Paguei 15 mil reais do meu bolso para fazer uma cirurgia. Aí entendi que devia parar”, contou Juliano.

Melhores personagens e a vida depois da bola

O técnico Thiago Nunes (hoje no Corinthians) foi escolhido o melhor técnico na carreira de Juliano César. Foto/Manoel Façanha.

 

Três personagens com os quais Juliano conviveu no futebol acreano mereceram destaque nas memórias do ex-artilheiro: o técnico Thiago Nunes (hoje no Corinthians), o presidente Natal Xavier e o árbitro Neuricláudio. “O Thiago, por ser um cara super competente. O Natal, por sempre querer o melhor para o clube. E o Neuricláudio, pela imparcialidade”, explicou ele.

Quanto a uma seleção acreana, Juliano sequer hesitou para escalar o seguinte time: Máximo; Ley, Dudu, Rodrigão e Ananias; Ismael, Wallace, Testinha e Rossini; Juliano César e Marcelo Bras. “Todos esses nomes mostraram a sua categoria em algum momento da história do futebol acreano. Posso dizer que eram jogadores diferenciados”, afirmou Juliano.

Atualmente trabalhando como gerente-administrativo numa empresa em Porto Velho, Juliano César não descuida do futuro e trata de cursar uma faculdade de ciências contábeis. “Para mim, o futebol profissional acabou em 2015. Nunca pensei em ser treinador. Tive mais sucesso do que fracassos. Às vezes dá saudade, mas só fico na base das lembranças mesmo”, disse ele.

Por último, um conselho para os meninos que desejarem seguir na carreira de atleta profissional. “Não ser apenas um jogador dentro de campo mas também fora dele. A gente sabe que chegar longe exige sacrifícios. Então, trabalhar sempre, não pensar no cansaço, dar seu melhor e, principalmente, respeitar o treinador, que a recompensa vem lá na frente”.

Fac Símile do Jornal Opinião de 08 de agosto/2020