O relatório paralelo da CPI do Futebol explica que o Tribunal Regional Federal (TRF) da 2ª região (Rio de Janeiro e Espírito Santo) paralisou as investigações do MPF e PF do chamado Caso FIFA, impedindo também acesso da comissão aos documentos.
O problema é que essa quebra inédita de tratado de cooperação internacional entre o Brasil e a Justiça americana, que no ano passado revelou os escândalos de corrupção no futebol envolvendo vários dirigentes, impediu o aprofundamento das investigações aqui no País em torno do tema – e também deixou uma lacuna na CPI.
Pode ser que a CPI não tivesse interesse de que novos fatos fossem revelados. Porém, se no voto em separado apresentado nesta quarta (23/11), pelo presidente da comissão Romário e o senador Randolfe Rodrigues, o assunto ganhasse mais destaque, inclusive questionando a inércia da justiça brasileira no caso, o documento teria peso maior. 0 documento alternativo do ex-jogador sugere indiciamento de nove pessoas.
Porém, um indiciado é a ponte principal para ser dar o desfecho desse caso específico aqui no Brasil sobre corrupção no futebol. Chama-se Kleber Leite. O relatório não diz isso claramente, mas dá todos os indícios de que o dirigente é hoje a peça central a ser investigada.
Foi a empresa de marketing esportivo de Kleber Leite, a Klefer, que entrou com habeas corpus em setembro do ano passado interrompendo as investigações. O pedido da empresa, aceito pelo TRF (conforme relatado na abertura desse texto), era para anular as decisões da 9ª Vara Federal, que havia autorizado busca e apreensão na Klefer no dia em que estourou o Caso FIFA, em maio de 2015 – os documentos apreendidos enviados às autoridades americanas tiverem que ser devolvidos.
A convocação de Kleber Leite para dar esclarecimentos na CPI do Futebol foi barrada pela bancada ligada à CBF.
As empresas de marketing têm papel preponderante nos “negócios” entre as entidades de futebol e patrocinadores e emissoras de televisão. Comissões e pagamentos milionários indevidos nas negociações criaram um sistema altamente corrupto, com operações ilegais aqui e no exterior.
A Justiça americana dá conta da entrada de Kleber Leite nesse tipo de negociação com a CBF em 2011, com o objetivo de obter direitos comerciais da Copa do Brasil.
Posteriormente, a Justiça dos EUA identifica que a Traffic, até então intermediária por anos nos acordos de direitos entre a CBF e empresas e emissoras de televisão, aceita a entrada da Klefer nesse negócio, passando ambas a dividirem o pagamento de suborno à CBF nos contratos relacionados à Copa do Brasil.
Pois essa hora é que se abre uma lacuna no relatório do Romário – e também no Caso FIFA. Com as investigações relativas a Kleber Leite engavetadas pela justiça brasileira, verifica-se que falta esse elo para se fechar o cerco em torno dos grandes nomes e empresas envolvidos nos escândalos do futebol brasileiro.
O próprio documento apresentado pela CPI esta semana sugere isso. Kleber Leite é citado como quinto e último personagem do esquema de corrução na CBF.
O primeiro personagem, J. Hawilla, é réu confesso nos Estados Unidos e principal informante do caso. O ex-presidente da CBF, José Maria Marin, cumpre prisão domiciliar nos EUA. O atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, e o ex-presidente da entidade Ricardo Teixeira, já foram indiciados pelo Departamento de Justiça americano.
Mas por onde anda Kleber Leite?