O livro “Um olho na bola, outro no cartola – o crime organizado no futebol brasileiro”, do senador Romário, foi lançado em setembro. Na época, o ex-jogador dizia que a publicação era uma “bomba” – a CBF tentou até embargar a distribuição da obra.
Dois meses depois do lançamento do livro, o primeiro depoimento à Justiça dos Estados Unidos tornado público depois da ação do FBI no chamado Caso FIFA, quando prendeu vários dirigentes, em maio de 2015, o argentino Alejandro Burzaco, da Torneos y Competências, não só fez denúncias contra a cúpula da CBF, como envolveu a Globo nos contratos firmados em direitos de televisão.
Porém, essa possibilidade de participação da Globo não é em nenhum momento aventada na obra de Romário, embora as suspeitas fossem grandes, pelo fato dos intermediários dos “negócios” da emissora – Kleber Leite e J. Hawilla – com as entidades de futebol já terem sido formalmente incriminados pela Justiça americana.
O livro nem sequer comenta sobre o argentino Burzaco e sua empresa, que fez as acusações à Globo e Marcelo Campos Pinto, ex-homem forte do futebol da emissora. E também não cita uma segunda testemunha, Santiago Pena, da Full Play, que envolveu a Globo em possíveis pagamentos de propina, em depoimento mais recente à Justiça dos EUA.
Romário instalou uma CPI no Senado logo após estourar o Caso FIFA. O relatório elaborado por ele a partir dessa comissão foi bem mais ousado que o livro dele, revelando as relações entre as entidades de futebol, de intermediários (como Burzaco e a Full Play), grupos de televisão, patrocinadores e fornecedores.
Um ano depois, o livro lançado pelo senador faz um apanhado de sua vida, expõe as suspeitas de corrupção no futebol e a estrutura do crime, reproduz alguns pontos de sua CPI, revela a luta que é enfrentar a bancada da bola e os interesses de todo tipo dentro do Congresso, apresenta propostas de melhoria, mas não levanta a bola sobre o assunto que mais saltou aos olhos do público recentemente com relação ao Caso FIFA: a possível participação da Globo nas operações.
Romário poderia ter se redimido desse “esquecimento” no livro e comentado sobre as acusações recentes que tem chegado lá de fora. Mas preferiu manter-se em silêncio, assim como fizeram os “valentes” procuradores da Lava-Jato, palpiteiros de primeira hora em qualquer assunto relacionado às ações judiciais, que tratam da promiscuidade entre empresas e agentes que deveriam zelar pelos interesses nacionais.