Mago, outro retorno

Marcelo Altino, carioca dito sangue bom, está de volta à beira dos gramados, depois de um período de ausência. Aos 75 anos, ele vai encarar a duríssima missão de dar um gás no São Francisco, time que perdeu os três jogos que disputou na atual edição do campeonato acreano de futebol.

O São Francisco, clube do grupo dos “pequenos” desde que nasceu, dadas as suas inúmeras dificuldades estruturais e financeiras, via de regra entra nos campeonatos só mesmo para fazer figuração. Mas os seus admiradores sempre esperam que a equipe apronte pra cima de alguém.

Dessa forma, nada mais justo, depois de três sapatadas consecutivas, que se demita o treinador (isso é mais fácil e racional do que trocar o elenco inteiro) e se contrate outra criatura para o lugar do demitido. Trocar o treinador pode ser a pedra de toque para o advento de uma nova era.

E nada mais razoável também do que chamar alguém com fama de mago para tirar a equipe da zona obscura em que se encontra. Essa fama, aliás, acompanha o Marcelo Altino desde que ele passou pelo mesmo São Francisco, há doze anos, e levou o time da lanterna ao terceiro lugar no returno.

Evidentemente, Marcelo Altino não ganhou esse epíteto de mago apenas pelo desempenho no São Francisco em 2007. Ele já operou outras magias ao longo da sua carreira. Afinal, foi sob o comando dele que o Rio Branco venceu a Copa Norte depois de bater o Remo em pleno Mangueirão.

E fora esses triunfos esportivos, os seus amigos mais chegados garantem que ele fez sim um curso intensivo sobre o universo imaterial, baseado na força do pensamento, numa época em que morou na cidade peruana de Puerto Maldonado. A professora teria sido uma velha cigana.

Provém desses referidos amigos a informação de que ele (o mago), quando morou em Plácido de Castro, treinando o time do mesmo nome, teria sido visto inúmeras vezes, em madrugadas de lua cheia, banhando-se nas águas barrentas do igarapé Rapirrã e falando com entidades invisíveis.

Se essas informações procedem, eu não sei dizer. O que eu sei é que o veterano treinador todas as vezes que me encontra faz umas previsões que acontecem direitinho. E sei também, como está fartamente documentado, que ele costuma obrar prodígios nas equipes que lhes são dadas para treinar.

O que se configura pitoresco é que um time dito católico chame justamente um mago para tirá-lo do buraco. Eu fico aqui pensando que talvez essa seja a prova definitiva do sincretismo religioso que permeia o coração do povo brasileiro. Um santo e um mago unidos em nome da mesma bola!