Nos tempos presentes existe por aí uma verdadeira caça aos sujeitos que manipulam (ou tentam manipular) os resultados dos jogos de futebol. Qualquer cartão amarelo mais ou menos suspeito e já se abre um rigoroso inquérito jurídico desportivo para ver se houve algum tipo de maracutaia.
Como tudo hoje em dia é filmado, as imagens gravadas servem para que os analistas se debrucem de cabeça para baixo, de lado, em diagonal, de baixo para cima, em câmera lenta, normal ou acelerada, frame a frame etc. e coisa e tal. Não passa nada, não fica pedra sobre pedra no reino do ludopédio.
Mas toda essa movimentação dos caçadores de fraudes, nesse presente de imigrantes cada vez mais famélicos, só existe, basicamente, por conta da atual moda das apostas. São milhões de dinheiros que podem passar de um lado para o outro, como num passe de mágica, bola na mão ou gol contra.
Uma hora o dinheiro está aqui, outra hora não está mais. Faltando alguns segundos para Sua Senhoria, o árbitro da partida, trilar o apito final e eis que um carinha até então acima de qualquer suspeita dá uma sarrafada no primeiro adversário que vai passando inadvertidamente ao seu lado.
Se um gesto tresloucado desses fizer um monte de gente que não sabe nada de futebol (ou que não costuma fazer apostas esportivas) ganhar uma bolada, o quiproquó está feito. Vai rolar um processo federal. O desavisado que cometeu a falta vai ter que provar que focinho de porco não é tomada.
Focinho de porco, converso eu com os meus botões, parece de fato que não é tomada. O certo, porém, é que às vezes não bastam as aparências. Igualzinho àquela história da mulher de César, a qual, diziam as escrituras, estava advertida para que não só parecesse como também fosse honesta.
Provar, entretanto, que houve má fé do jogador que cometeu a falta, aí são outros quinhentos. Se o sujeito for esperto e não tiver usado os meios eletrônicos para avisar aos apostadores do que ele iria fazer, blau blau, bacalhau, nada pode ser provado. Ressaltando que indícios não são provas.
Sem falar, mas já falando, que os sujeitos que gostam de levar vantagem em tudo sempre dão um jeito de burlar a vigilância. Ouvi até dizer que, para não deixar rastros, tem uns camaradas já pensando em aprender a transmitir em Código Morse e treinando se comunicar por sinais de fumaça.
O Código Morse, como se sabe, cheio de pontos e traços, cessa a prova logo que acaba a transmissão. E os sinais de fumaça, esses o vento leva. É isso. Eu não sou Sócrates nem bebo veneno, mas sei que nada sei. Fiquem aí que eu vou fazer a minha fezinha. Uma hora eu haverei de acertar!