Tenho me deliciado por esses dias com a leitura de um livro publicado em 2009, tratando da relação entre o futebol e a política no Brasil. São muitas e boas as revelações extra campo e consequentes análises feitas pelo autor, jornalista e doutor em história Marcos Guterman.
Intitulado “O futebol explica o Brasil – Uma história da maior expressão popular do país”, o livro estabelece uma linha direta entre o mundo do poder, principalmente no tempo do regime militar, e as vitórias da seleção brasileira, cujo ápice foi o triunfo na Copa do Mundo de 1970.
Mas o que eu mais achei interessante até aqui onde avancei na leitura diz respeito às “malandragens” que permeiam o mundo do futebol. Malandragens essas que costumam ser “esquecidas” quando nos beneficiam, porém que são “choradas” pra sempre quando nos prejudicam.
Um exemplo do que preferimos “esquecer” foi um fato que aconteceu na semifinal da Copa de 1962, no jogo contra o Chile. É que, aos 39 minutos do segundo tempo, depois de apanhar o jogo inteiro do lateral chileno, Garrincha foi para o revide. O bandeirinha viu e o brasileiro foi expulso.
Com isso, Garrincha seria julgado e não jogaria a partida final, contra os tchecos. E então, eis que o inusitado aconteceu: o bandeirinha, testemunha do caso, supostamente subornado pela cartolagem brasileira, tomou chá de sumiço. Garrincha foi absolvido, jogou e o Brasil ficou com a taça.
Por outro lado, lembraremos pela eternidade a presepada que os peruanos fizeram na Copa do Mundo de 1978, ao supostamente “abrir as pernas” para a Argentina. Os argentinos precisavam ganhar por quatro gols de diferença para eliminar o Brasil e ir à final. Pois eles enfiaram meia dúzia!
Vejam vocês que o Peru vinha de uma campanha muito boa, tendo empatado com a Holanda (o time do “carrossel”) e tascado dois “sacodes”, sendo um na Escócia (3 a 1) e outro no Irã (4 a 1). Teoricamente deveria fazer um jogo duro contra a Argentina. Deveria se não fosse a “mala preta”.
Acontece que aquela copa já estava decidida muito antes de a bola rolar. Os generais argentinos, liderados à época pelo ditador Jorge Videla, não perderiam a oportunidade, por nada nesse mundo, de faturar algum prestígio. O Brasil, eliminado invicto, se proclamou campeão moral (rsrs).
Então, ficamos assim: maracutaias que devem ser lembradas, futebolisticamente falando, só mesmo as ruins, aquelas que nos trouxeram prejuízos e choradeira. Bandalheiras que nos beneficiaram, por favor, essas devem ser apagadas. Apagadas e creditadas a torcedores rivais e invejosos!