Mão amiga

O gol de mão que o atacante Jô, do Corinthians, marcou no jogo contra o Vasco, domingo passado, pelo campeonato brasileiro, alimentou os debates das resenhas esportivas e dos papos de boteco. Com o gol irregular, os paulistas bateram os cariocas e garantiram a liderança do referido torneio.

Gols marcados com essa parte do corpo, ou então de jogadas iniciadas dessa forma irregular, não são necessariamente uma novidade no planeta futebol. Penso que todo mundo que acompanha esse esporte, seja na várzea ou nos mais categorizados campeonatos, já viu um gol desse tal natureza.

No futebol acreano do passado, eu lembro de pelo menos dois jogadores que cansaram de marcar gols com as mãos: o Madureira, que durante muitos anos vestiu a camisa do Andirá, chamado Morcego da Cadeia Velha; e o Bruno Couro Velho, atacante do Rio Branco, o Estrelão.

Ambos centroavantes, ambos artilheiros, ambos de escassos recursos técnicos, esses dois não tinham nenhum pudor de mandar a bola para as redes da maneira que desse. Tanto marcavam gols de belíssima feitura quanto de canela ou mão. O que importava era que a bola pudesse entrar.

As mãos, para o Madureira e o Bruno Couro Velho, eram apenas extensões privilegiadas do próprio corpo. E, embora proibida pela regra, valia a mesma coisa um gol feito de cabeça, de pé, de canela, de barriga ou de mão. Se o trio de árbitros não visse a irregularidade, pouco importava.

E no futebol mundial ficou famoso aquele lance em que o atacante francês Thierry Henry ajeitou a bola com a mão antes de cruzar para o seu companheiro Gallas mandar para o gol da Irlanda, classificando a galera da Torre Eiffel para a Copa do Mundo de 2010. Os irlandeses choram até hoje!

Sem falar, mas já falando, daquele escandaloso gol de mão marcado por Dom Diego Armando Maradona contra a Inglaterra na Copa do Mundo de 1986. A televisão mostrou a mão do pequenino argentino erguer-se sobre a cabeça para mandar a bola para as redes. Todo mundo viu, menos o juiz.

Ou então, o juiz até viu sim. Viu, mas compreendeu antecipadamente o que seria explicado por Maradona mais tarde, nas entrevistas, de que a mão que empurrou a bola para as redes dos ingleses não fora a dele. Teria sido, então, de acordo com Maradona, por assim dizer, “la mano de Diós”.

Mas voltando ao gol de mão do Jô contra o Vasco, o certo é que a Confederação Brasileira de Futebol entrou em cena para evitar que esse tipo de engodo volte a ocorrer, instituindo o árbitro de vídeo. Todos os lances duvidosos agora serão decididos pela tecnologia. “Mão amiga” nunca mais.