Se tem um sujeito com um baú de histórias pitorescas sobre o futebol acreano, esse é o Marcelinho Melo, ex-jogador de Juventus, Independência, Atlético, Adesg e Andirá, entre os anos de 1990 e 2000. Não foi por acaso que o dito cujo se formou em História pela Universidade Federal do Acre.
E quando alguém lhe pergunta por isso ou aquilo, ele não se faz de rogado: manda o interlocutor prestar bem atenção que ele vai contar como tudo aconteceu. A memória prodigiosa dele guarda com a maior exatidão fatos, lugares e personagens. E tome detalhes sobre os bastidores do esporte.
Um dia desses, quando ele leu uma crônica que eu escrevi sobre jogadores do futebol acreano que tinham nomes de animais (Vaca, Curica, Mucuim, Gato, João “Cutia”, Pixilinga, Barata, Bodó, Edson “Carneiro”, Cairara, Catita etc.), ele me disse que eu esqueci um jogador chamado Burro.
Como eu não tenho autorização do Marcelinho para revelar o nome do referido atleta, vou me ater apenas em reproduzir, de forma bem resumida, a origem do apelido, cujo personagem, diga-se de passagem, absorveu bem a brincadeira e jamais apelou com os colegas que passaram a chama-lo assim.
O que aconteceu para originar o apelido, de acordo com o meu amigo “contador de histórias”, foi que a criatura apelidada, lá pelas tantas, quando cursava o segundo grau, foi fazer uma prova sem estudar uma só linha. E aí, depois que viu a folha da prova na sua frente constatou que não sabia nada.
Para não tirar zero, o tal personagem resolveu apelar para o famigerado expediente da “cola”. E aí tratou de “cutucar” o colega sentado à sua frente para lhe passar as respostas. Tanto “cutucou” o colega que este, num descuido do professor, lhe repassou a sua própria folha de prova.
Ao repassar a folha da prova respondida, o colega advertiu o “colão”, dizendo-lhe para não copiar as respostas literalmente. Tratava-se de uma prova subjetiva e cada um deveria responder com as próprias palavras. O “colão”, segundo o Marcelinho, assentiu, dizendo: – Beleza, deixa comigo.
Dias depois, porém, quando o professor devolveu as provas corrigidas, tanto o colão quanto o colega piedoso que passou a cola levaram zero, uma vez constatado que as respostas eram rigorosamente iguais. O “colão” havia copiado até o nome do colega no lugar onde deveria constar o nome dele.
Naturalmente, como é de se esperar numa situação dessas, a criatura que deu a cola cortou as relações com o colão, recusando-se a dirigir-lhe a palavra por muitos anos. Ao colão, sempre de acordo com as palavras do historiador/narrador Marcelinho, restou o apelido de “Burro”. Fecha o pano!