Matar ou morrer

O título aí de cima eu tirei de um filme do gênero faroeste, produzido em 1952, sob a direção do genial cineasta Fred Zinnemann. A trama gira em torno de um xerife que está se aposentando, mas antes deve encarar um inimigo que todos julgam ser mortal e que chegará à cidade no próximo trem. Não há outra saída para o velho e cansado xerife: ou mata ou morre!

Dois anos depois, em 1954, o brasileiro Carlos Manga criou uma sátira do faroeste americano, produzindo o filme Matar ou Correr, com um elenco de comediantes liderados por Oscarito e Grande Otelo. Na história nacional, um vigarista é nomeado xerife, por acaso, e assim é desafiado para um duelo com o bandidão da trama. Resultado: ou mata ou corre.

Por alguma razão que só faz sentido no mundo dos meus neurônios, cada vez mais solitários na medida em que o tempo passa (fiz 58 anos na sexta-feira e aproveito aqui para agradecer todas as manifestações de carinho dos amigos, viu?), tanto um filme como o outro afluíram na minha memória por conta do próximo confronto do Rio Branco na série D.

Depois de jogar 10 partidas na primeira parte da referida competição, contra times da região Norte (Genus -RO-, Princesa do Solimões -AM-, Santos -AP-, Atlético -AC- e São Raimundo -RR-), o chamado Estrelão logrou classificar-se em primeiro do seu grupo e, dessa forma, ganhou o direito de ir para a fase mata-mata, nas oitavas de final do torneio.

Diferentemente da fase anterior, quando um vacilo poderia ser corrigido pela soma de outros bons resultados, agora o buraco é mais embaixo. E assim, tal como no filme de Zinnemann, ou mata ou morre. A opção de correr, como no filme de Manga, sequer pode ser considerada. Não se trata de uma comédia. Ao contrário. É drama que não acaba mais.

É drama para um lado e para o outro. O Anapolina, assim como o Rio Branco, joga a vida nesse confronto. Passar pelo adversário significa continuar sonhando em subir de divisão em 2015, jogando com melhores cotas, em melhores estádios e motivando mais os respectivos torcedores. Um pistoleiro chega no próximo trem e precisa ser morto a qualquer custo.

E tem mais. Pelo que leio nas folhas dispersas pela internet, sabedores que uma bala certeira é que pode decidir o seu destino, a Anapolina vai para o primeiro jogo contra o Rio Branco, domingo, em Anápolis, no interior goiano, com três atacantes. Artilharia pesada. A ideia é a do bom resultado em casa para depois administrar o jogo da volta.

Pois bem. Acontece que num duelo não se dispara em alvo fixo. Troca-se chumbo e as balas são sementes que podem, dependendo da pontaria dos atiradores, fazer vicejar o triunfo no peito do adversário. Anapolina e Rio Branco são ambos vermelhos, sangue quente a escorrer pelos caminhos do corpo. Matar ou morrer; em nenhuma hipótese correr!

Francisco Dandão