Neste mês de maio completei 28 anos como profissional da crônica esportiva – essa somatória de anos é batizada de bodas de hematita, pedra que representa solidez e resistência. E lembrando dessa minha trajetória de quase três décadas de atuação na área do jornalismo esportivo veio na memória da época de minha infância um aparelho de rádio (Motoradio), de cor amarela, seis faixas e de propriedade da minha saudosa mãe. Lembro-me ainda que, naquela época, a minha emissora esportiva preferida era a Rádio Nacional, cuja equipe era composta pelo narrador Jose Carlos Araújo (Garotinho), o comentarista Luiz Mendes (comentarista da palavra fácil) e os repórteres Denis Menezes e Washington Rodrigues (Apolinho).
Nessa viagem de quase meio século no tempo, lembro, ainda, que o meu primeiro jogo marcante com o rádio colado no meu ouvido (ou próximo dele), ocorreu na temporada de 1977, quando o narrador esportivo Osmar Santos (Rádio Globo) narrou a vitória do Corinthians sobre a Ponte Preta por 1 a 0 (gol de Basílio), com público de quase 150 mil espectadores presentes ao Pacaembu. O triunfo corintiano pôs fim a um jejum de 23 anos sem um título de Campeonato Paulista por parte da equipe do Parque São Jorge.
A partir daí, o meu interesse pelo mundo esportivo somente cresceu. Em menos de duas décadas fui de colecionador de figurinhas de Copa do Mundo/Futebol Brasileiro (Futebol Card e tampinhas de Coca-Cola) a cronista esportivo. Porém, antes disso tudo, eu pratiquei várias modalidades esportivas e ainda cheguei à função de dirigente esportivo – tesoureiro da Federação Acreana de Futsal (Fafs) e diretor de Esportes do Sindicato dos Bancários do Acre, isso sem falar da função de diretor de Esportes, aos 14 anos, do grupo de jovens “Liga Juvenil Experimental”, onde entre os militantes faziam parte os professores José Alício Martins e Afrânio Moura.
“Cheguei a relutar um convite pra ser cronista esportivo”
O tempo passou e por força do destino em meados dos anos de 1990, eu passei a escrever uma página de esportes na edição do jornal O Manifesto Bancário. Lembro-me que os exemplares eram distribuídos pelos dirigentes sindicais nas unidades bancárias, mas a minha forma inquieta me levava a deixar alguns exemplares na Rádio Difusora Acreana. O cronista esportivo Raimundo Fernandes, um amigo do bairro da Estação Experimental e membro da equipe esportiva da rádio estatal e ainda editor de Esportes do jornal O Rio Branco, acompanhava o meu trabalho e, quando resolveu concorrer a uma cadeira de vereador pela cidade de Rio Branco-AC (1996), me fez o convite para um estágio no diário. Confesso que relutei para aceitar aquele convite, pois não me achava capacitado o suficiente para assumir uma função importante num dos principais jornais da cidade, apesar de já ter uma graduação no curso de História da Ufac. Porém, o Fernandes não se deu por vencido e me convenceu a assumir a função.
Cheguei ao jornal O Rio Branco para ficar um verão e acabei ficando por quase duas décadas (1996-2015). É algo que jamais irei me arrepender, isso pelo aprendizado, maturidade, produção/dedicação e reconhecimento da comunidade esportiva.
Também não poderia deixar de registrar que a minha sólida permanência de quase duas décadas na editoria de Esportes do jornal O Rio Branco fez de mim o jornalista esportivo da área da comunicação impressa com mais tempo numa única empresa e sempre atuando como setorista esportivo. Um imenso orgulho para qualquer profissional que labuta nesta área.
Quando cheguei para escrever sobre Esportes na redação do jornal O Rio Branco, eu, com meus 1m60cm, com pouco mais de 50 quilos, uma belíssima cabeleira e pertinho de completar meus 26 anos de idade (maio de 1996), trazia no sangue a força de vencer na vida, o espírito coletivo de transformar o mundo para melhor e ainda a fome de aprender jornalismo esportivo. Essa junção, aos poucos, colaborou, diretamente, na minha indicação para a cadeira de presidente da Associação dos Cronistas Esportivos do Acre (Acea).
“Minha carreira como dirigente da Acea começou nos anos 2000”
Com formação no curso de história da Ufac e há alguns anos já atuando como dirigente sindical, com frequência livre para representar os funcionários do Banco Itaú, na cidade de Rio Branco-AC, passei também a dedicar parte do meu tempo livre para reorganizar a categoria de cronistas esportivos em nosso estado, isso nos primeiros anos do século XXI. Lembro-me ainda que o meu primeiro trabalho duro foi a elaboração de um novo estatuto para a entidade e, posteriormente, a inscrição da associação na Receita Federal para a criação de um CNPJ. Outro passo importante foi o retorno da entidade aos congressos organizados pela Associação Brasileira de Cronistas Esportivos/Abrace (2003). Num segundo momento, criamos o site da crônica esportiva local e ainda passamos a incentivar a realização de inúmeras atividades, muitas delas ocorridas em parceira com a Acea. Somando tudo isso, a nossa Acea, aos poucos, passou a ser uma das referências políticas no meio esportivo, não faltando convites para prestigiar eventos, seja das federações/associações esportivas ou ainda aqueles eventos organizados pelo poder público estadual/municipal.
Também neste mesmo período, precisamente no ano de 2005, a Acea criou o Prêmio Destaque Esportivo Campos Pereira. O projeto teve apoio do Governo do Estado, através da Lei de Incentivo ao Esporte, com os bônus financiados pela rede Arasuper. O prêmio ganhou notoriedade e o trabalho realizado não foi mérito apenas da minha gestão, mas de cada cronista esportivo que abraçou aquela causa.
E, falando em Prêmio Campos Pereira, certa vez, numa plenária de congresso da Abrace – na cidade de Joinville-SC/2006, durante a apresentação de relatórios de atividades das entidades filiadas, resolvi apresentar um vídeo do prêmio (2005) como parte das atividades realizadas pela Acea no ano anterior. Os congressistas, em peso, aplaudiram, de pé, aquela atividade desenvolvida pela nossa associação. Eu e o professor Francisco Dandão, então presidente e vice da Acea, respectivamente, ficamos não somente surpresos, mas emocionados pela atitude dos colegas congressistas, tanto que, após aquele congresso, já em solo acreano, o professor Dandão fez uma belíssima crônica para registrar aquele fato.
“Cheguei a ser um dos vice-presidentes da Abrace”
Nesta área de dirigente associativo, não tardou muito para eu receber um convite do então presidente Aderson Maia (in-memória) para fazer parte da direção da Abrace. O cargo foi oferecido e, prontamente aceito, para exercer a função de delegado da entidade nacional em solo acreano (2004-2012). Os anos se passaram e fui indicado e conduzido a fazer parte do Conselho Fiscal (2013-2016) e, por último, a convite do saudoso presidente Kleiber Beltrão, passei a responder como um dos vice-presidentes regionais (2017-2021). Nos últimos anos, por questões particulares, resolvi me afastar de cargos associativos ligados a crônica esportiva, isso pelo fato de entender que nestes 20 anos de militância já havia contribuído o suficiente e que outros colegas precisavam fazer o mesmo.
Nesta trajetória de representante acreano na Abrace cheguei a participar de 16 congressos nacionais, um congresso internacional da Aips América (2012) e um jogos da Aips América (2018).
“Orgulho de ter obras na biblioteca do CRFB”
Na literatura esportiva eu tenho a dizer que, meu interesse começou quando da produção do meu TCC para a formação do curso de jornalismo (2006-2009) pelo Iesacre/Uninorte. Certa vez, com o trabalho realizado, o professor/padrinho Francisco Dandão comentou que aquele trabalho (tirei nota máxima na avaliação dos professores) poderia ser transformado num livro, isso pela sua importância de registro. A ideia não saiu da minha cabeça e então resolvi apresentar a proposta da criação do livro no projeto da Lei de Incentivo ao Esporte, em 2012. O projeto, para a minha felicidade, acabou aprovado e o livro “Jornalismo Esportivo no Acre na Era do Futebol Profissional” foi lançado no mês de dezembro do mesmo ano. Outras três obras ainda produzi em parceria firmadas com o professor Francisco Dandão e o jornalista carioca Augusto Diniz.
Um orgulho que trago nestes anos de labuta é o fato de alguns livros, textos e fotos de minha autoria estarem espalhados por diversas partes do país ou até fora (já participei de um congresso internacional de cronistas esportivos (Aips América, na cidade de Manaus, em 2012, onde na oportunidade distribui alguns livros de minha autoria e a peça “Futebol Acreano em Revista”). Também não poderia deixar de informar que na área de literatura esportiva, eu, o professor Francisco Dandão, além do jornalista Augusto Diniz, já termos contribuído com nossas obras para a biblioteca do Centro de Referência do Futebol Brasileiro (CRFB), fato esse que nos deixa deveras orgulhosos de nosso trabalho.
“Tenho o hábito de colecionar memórias”
O meu hábito de colecionador de memórias iniciou ainda na minha época de estudante de primeiro grau da rede pública de ensino (Escola Natalino da Silveira Brito). O tempo passou e a minha aprovação para o curso de História, em 1991, pela Universidade Federal do Acre (Ufac), fortaleceu ainda mais esse lado de colecionador de objetos ou imagens da nossa história.Com o passar dos anos durante a militância no jornalismo esportivo passei a contar com um vasto memorial de imagens, jornais entre outros, assim passando a ser uma referência local no que diz respeito a memória do esporte acreano, em especial, do nosso futebol. Na última década, colegas de imprensa sempre recorrem aos meus arquivos para fechar uma pauta, principalmente quando o assunto já tem décadas do ocorrido. Como sempre tive um visão de coleguismo, sempre procuro atendê-los no sentido de ajudar para o engrandecimento da memória do personagem, clube, federação, associação que está em pauta. Também já contribui com orientação, entrevistas, textos e imagens para diversos acadêmicos dos cursos de Jornalismos e Educação Física.
Por fim, nos últimos anos, tenho me dedicado um pouco mais às pesquisas em jornais locais. Neles coleto textos, imagens, fichas técnicas de jogo e algo mais que venha a me interessar, seja na esfera política, esportiva ou cultural. Também quero expressar que muitos desses trabalhos realizados são para atender a pedidos de alguns amigos pesquisadores de diversas partes do país para a elaboração de textos ou almanaques de clubes do futebol brasileiro.
“Há mais de uma década trabalho de forma independente”
Há mais de uma década sigo a minha militância no jornalismo esportivo com uma produção independente (sem salário fixo, apenas com uma ajuda de custo para não bancar do próprio bolso as despesas das coberturas). Essa nova realidade virou uma tendência no mercado do jornalismo esportivo local, após o fechamento das redações dos jornais impressos e a política de baixos salários pagos em outros meios de comunicação. Sem uma alternativa a recorrer, boa parte desses profissionais tiveram que se adaptar à nova realidade do mercado de trabalho e passaram a criar o seu próprio meio de produção (site ou blog). Eu, por exemplo, após a saída do jornal O Rio Branco, em 2015, firmei uma parceria de quase nove anos no jornal Opinião (até março de 2024, quando resolvi romper e, posteriormente, firmar uma parceria com o site Acre News).
Também quero compartilhar que no próximo mês de agosto o site Na Marca da Cal chegará ao quinto ano de sobrevivência, mas quando achar que eu já dei minha contribuição não relutarei em colocar um ponto final nesta peça que serve de referência para muitos pesquisadores e amantes do futebol.
Por fim, quero confidenciar que resolvi usar essa introdução acima para informar que boa parte da comunidade esportiva não conhece a realidade da sobrevivência do jornalismo esportivo local e, também, para dizer que, apesar de alguns conhecerem a nossa realidade nua e crua, preferem ignorar essas particularidade e ainda achar que temos por obrigação realizar as coberturas de seus eventos com o dinheiro do nosso próprio bolso. Sendo que, algumas dessas entidades recebem dinheiro do contribuinte, seja através de convênios firmados com o Governo do Estado ou de emendas parlamentares.
Neste sentido, acredito eu que, após essa imensa “carta” pública, a crônica esportiva acreana merece mais apoio do setor empresarial/comercial e também do poder público para continuar contribuindo com a fomentação do desporto local. Caso contrário, a tendência será pela drástica redução desses profissionais no mercado de trabalho e, consequentemente, a perda de cronistas esportivos qualificados e com vasta folha de serviços prestados ao desporto.
E pra finalizar esse nosso “esclarecimento”, quero lembrar aos “inquisidores” de plantão das redes sociais que eu não sobrevivo dos ganhos financeiros da minha atuação como cronista esportivo. Sou apenas mais um colaborador nato, assim como tantos outros, mas preciso cobrir os meus custos da minha produção jornalística para não fomentar o desporto com o dinheiro do meu próprio bolso, pois já fiz até demais durante essas quase três décadas de militância (compra de equipamentos, gasolina, pneu de carro etc…).