Meu reino por uma banana

Daniel Alves, lateral do Barcelona e da seleção brasileira, ganhou as manchetes do mundo ao comer uma banana atirada em campo por um torcedor racista. Em vez das lamúrias e dos traumas que gestos dessa natureza costumam causar nos seus alvos, Daniel, que sequer se virou para identificar o agressor, calmamente descascou e tratou de devorar a fruta.

A atitude do jogador brasileiro foi como uma espécie de senha. A partir dela (atitude), inúmeros outros famosos (ou nem tanto) postaram fotos nas redes sociais dando apoio ao Daniel e repudiando quaisquer atos discriminatórios de cunho racial. O “patureba” que jogou a banana, certamente algum tipo de feiticeiro amador, jamais esperou tal reação.

Neymar, parceiro de Daniel no Barcelona e sobre os ombros de quem recaem as nossas maiores esperanças na Copa do Mundo que começa no próximo mês, foi mais longe, posando com uma banana e garantindo, também em rede social, que “somos todos macacos”. Com isso ele meteu brancos e negros, discriminadores e discriminados, no mesmo balaio.

Diante do exposto, começaram as minhas mais profundas dúvidas e consequentes divagações filosóficas. “Ser ou não ser” macaco , como na dúvida shakespeariana, virou a questão. Comer bananas nos dá esse direito de estabelecer um parentesco assim tão próximo com a macacada? E os macacos não ficarão ofendidos com esse súbito reconhecimento humano?

A dúvida enseja a pesquisa. Corri, então, aos compêndios. Quer dizer, corri ao Santo Google. Na primeira tentativa de busca encontrei um artigo altamente sugestivo, explicando como o naturalista inglês Charles Darwin, 150 anos atrás, na sua teoria da evolução, já estabelecia essa conexão entre homens e macacos, garantindo que ambos seriam primos.

Os cientistas modernos, por sua vez, munidos de invasivos microscópios e auxiliados por potentes computadores, foram mais longe. Mapearam o DNA dos seres vivos, descobrindo que a diferença genética entre os homens e os chipanzés é de apenas 2%. Ou seja, quase nada. Muito mais semelhanças do que jamais conseguiu supor qualquer vã filosofia!

Mas os estudos não pararam por aí. Os tais cientistas afirmam ainda que os chipanzés só não falam porque em certo momento da sua cadeia evolutiva eles sofreram algum tipo de bloqueio. A despeito disso, porém, afirmam os mesmos cientistas que esses nossos parentes conseguem se comunicar com os humanos (e entre si) por meio de símbolos e sinais.

É isso. À moda de Sócrates, cada vez tenho mais certeza de que não sei é de quase nada. Mas continuarei tentando aprender. Minha próxima empreitada vai ser arranjar algum amigo chipanzé para tentar compreender a comunicação por sinais. Ao mesmo tempo tratarei de devorar todas as bananas possíveis. Que se exploda a textura da pele ou a cor das palavras!

Francisco Dandão