Quero compartilhar com os leitores da coluna a minha participação no Bar do Vaz (entrevista circulou nessa sexta-feira). Como profissional de imprensa, tinha um sonho antigo de “consumo” de participar desse quadro. Sou amigo do Roberto Vaz (apresentador do quadro) há quatro décadas. Já fui colaborador do ac24horas.com, mas, apesar disso, jamais tentei furar a fila do programa.
Muita gente não sabe que a minha primeira experiência na imprensa foi dada pelo Roberto Vaz, isso no longínquo ano de 1984, na extinta Folha do Acre. Fui estagiar como chargista, aos 14 anos, orientado por um pernambucano talentoso chamado Emanuel. Fiquei apenas uma semana, não por não querer ou por falta de afinidade com a arte, mas para obedecer aos conselhos de minha saudosa mãe, essa me orientando a concentrar nos estudos.
Neste mesmo ano, o Vaz, já cronista esportivo, tinha grande amizade com o ex-jogador e então técnico do Independência, o saudoso professor Nino, meu vizinho e professor de Educação Física da Escola Natalino da Silveira Brito. Pois bem. Eu, um adolescente sonhador da periferia de Rio Branco, de família de baixa renda, filho de pais separados, torcedor do Independência, almejava o sonho de assistir uma partida de futebol à beira do gramado do lendário Stadium José de Melo, bem pertinho daquela gama de ídolos, algo que era sonho de consumo de muitos jovens da minha idade.
Lembro-me que naquela época, eu era o tipo garoto de “ouro” do professor Nino, não no sentido futebolístico, mas na arte de servi-lo, seja num mandado na taberna próximo de casa, seja uma pintura no campinho de terra batida do “Maracutaia”, seja em datilografar os regulamentos ou tabelas dos campeonatos da Funbesa organizados por ele ou ainda sendo o mesário de inúmeras partidas de futebol.
Então, o Nino sabia do meu amor pelo tricolor, apesar de antes, ter me levado por diversas vezes para assistir aos treinos do Juventus e alguns jogos do Clube do Povo, inclusive, fui algumas vezes na concentração do rubro negro acreano, numa residência localizada próximo ao estádio José de Melo, mas jamais deixei de lado o meu amor pelo tricolor do Marinho Monte, tanto que o meu desejo de pisar no Stadium José de Melo para assistir o clube de coração foi concretizado numa parceria entre o professor Nino e o Roberto Vaz.
Retornando ao Bar do Vaz, eu já o havia o provocado o apresentador no início da entrevista ao lembrar da minha primeira vez no gramado do José de Melo. Sábio, o Vaz me perguntou como me sentia ao comparar aquele Façanha, da primeira pisada no Stadium José de Melo, ao Façanha de hoje, considerado como um dos principais cronistas esportivos do estado. A pergunta me fez lembrar das minhas dificuldades sociais (criança pobre e filho de pais separados), mas ao mesmo tempo me fez lembrar com muita alegria de pessoas como o Nino e o Roberto Vaz, que eram para mim, naquela época, verdadeiros “anjos” ao me proporcionar inclusão social usando como ferramenta o esporte. Foram esses dois personagens que me mostraram durante minha infância e adolescência um horizonte de possibilidades para o meu crescimento social e profissional. Essas lembranças positivas elevaram, naquele momento da entrevista, o meu emocional e as minhas lágrimas foram de gratidão, não de tristeza, pois não é todos os dias que um ser humano tem a oportunidade de ser entrevistado por um daqueles que, na sua infância e adolescência, foi mais que um amigo, mas sim, um verdadeiro “anjo”.