Minto, logo existo

Francisco Dandão


Mentir é condição essencial da existência humana. Não é possível alguém passar a vida falando apenas a verdade. O que varia é o grau e o eventual dano da mentira. Existe quem minta só de leve, para ser politicamente correto ou sair de alguma situação embaraçosa. Outros fazem da mentira uma profissão de fé. Mas todos, no final das contas, mentem.

Quem disser que jamais mentiu, já está mentindo. Não tem esse, seja jovem ou velho, preto ou branco, homem ou mulher, padre ou sacristão, vendedor de loteria ou jesuíta, soldado raso ou coronel… É preciso mentir, nem que seja para diminuir o sofrimento do interlocutor, ou então para proporcionar alguma réstia de esperança no fundo de um poço escuro.

Naturalmente, existem profissões que praticamente exigem que os seus personagens mintam em tempo integral. Principalmente quando eles estão à cata de ganhar a confiança daqueles que vão determinar o seu futuro. É o caso dos políticos, primordialmente quando estão em campanha eleitoral. Falar a verdade para essa classe é quase suicídio. Quase isso!

Assim, com tanta gente se dedicando a mentir o tempo quase todo, nada mais justo do que a instituição do Dia da Mentira (não foi esse o motivo pelo qual se originou a data, mas vá lá que seja). E, dessa forma, com um dia todo dedicado à mentira, aqueles que ainda, eventualmente, se constrangem com tal prática têm pelo menos 24 horas para soltar a franga.

Como o tal Dia da Mentira é “comemorado” exatamente em 1º de abril, nesta quarta-feira, portanto, me dediquei na manhã de terça-feira (31) a pesquisar o que algumas pessoas gostariam de ver na manchete do dia seguinte, com relação ao esporte e à mentira. As respostas foram as mais variadas possíveis. Múltiplas, mas eu só posso me ater a três neste texto.

Resposta do Manoel Façanha, editor de esportes do jornal O Rio Branco: “Cartolas da FIFA resolvem anular o jogo entre Brasil e Alemanha pela Copa do Mundo do ano passado”. Resposta do Toinho Martins, irmão afetivo do advogado Ademir Sena: “Eleição de internautas aponta Cléber Cara Rachada como um dos dez maiores craques da história do Juventus”.

A terceira resposta, talvez a que esteja, por assim dizer, bem mais próxima da realidade imediata, foi justamente do meu personagem favorito dessas eternamente mal traçadas, o empresário Ezequias Açaí Sarado. A manchete dele do Dia da Mentira, que deveria sair num site, no começo da noite, seria a seguinte: “Rio Branco goleia o Vasco pela Copa do Brasil”.

A manchete do Manoel Façanha demonstra que ele até hoje não conseguiu engolir aquela lapada que os nossos amarelos chorões levaram dos germânicos. A manchete do Toinho só quer mesmo é sacanear o Cléber Cara Rachada. Já a manchete do Açaí Sarado, essa reflete a demência de um torcedor que ainda acredita em milagres. Continuemos, então, a mentir!