Mito da resistência

Li nos sites uma entrevista do presidente do Andirá, João Paulo, sobre o desempenho da equipe no campeonato acreano deste ano e da disposição para começar um trabalho visando 2018. Li e não pude deixar de pensar em como este clube pode ser considerado um mito da resistência.

O Andirá não tem nada. Não tem sede própria, não tem estádio, não tem quadro social e, no entanto, ano após ano, seja na primeira ou na segunda divisão, chova ou faça sol, está lá exibindo em campo a sua modéstia, ganhando pontinhos e mostrando que segue respirando pela vida.

O Andirá não tem nada nesse sentido de estrutura e bens materiais, mas tem o que falta a muita gente boa: a disposição, a determinação, a coragem e a garra para não abandonar a luta. E assim, para alegria dos seus adeptos, pregando o escudo no peito com grampos, não deixa a bola baixar.

Ressalte-se que o Andirá nem sempre viveu o estado de penúria dos dias atuais. Aliás, muito pelo contrário, foi um clube que nasceu grande, na década de 1960, por iniciativa da tradicional família Dantas, composta por figuras de eminentes políticos, abastados comerciantes e ricos seringalistas.

Foi uma época em que o Andirá teve tudo. Não chegou a conquistar nenhum título de campeão estadual, mas protagonizou boas histórias. Caso, por exemplo, de ser o primeiro time do Acre a figurar num teste da Loteria Esportiva, contra o paraense Paysandu. Foi goleado, mas aí é outra história.

E destaque-se que o Andirá foi um dos primeiros times do futebol acreano a importar jogadores. No time que jogou contra o Paysandu, no jogo inserido na Loteria Esportiva, havia pelo menos cinco craques “importados” à disposição: Dário, Sabará, Luís França, Daniel e Duplanir.

Fora tudo isso, são incontáveis os ótimos jogadores que ao longo dos anos vestiram a camisa do Morcego. Cito alguns que vou lembrando enquanto escrevo: Erádio, Babá, Danilo Galo, Madureira, Mariceudo, Manoelzinho, Targino, Hélio Fiesca, Cabo Dias, Uchoa, Castro, Pixilinga…

Na lista de abnegados que carregaram o time literalmente nas costas, depois que a família dos Dantas saiu de cena, também incontáveis são os nomes. Igualmente vou lembrando alguns enquanto escrevo esta crônica: Xepa, Zé Américo, Afonso, Olavo Pontes, Nilzomar, Amenu, Capistrano…

Pois então é isso, meus caros amigos… Aos trancos e barrancos, escorregando aqui, caindo acolá, com mais dívidas a pagar do que receita por receber, o certo é que o Andirá está vivo no game. Eu acho que o Morcego é mesmo um mito da resistência. Exemplo para muita gente boa sim!