(*) Francisco Dandão
Embora tenha nascido em Rio Branco, no dia 23 de julho de 1960, Neivo Vilacorta Araújo passou a infância em Assis Brasil, na região da tríplice fronteira (Brasil/Bolívia/Peru). E foi ali que ele teve os primeiros contatos com o futebol, cujas partidas eram jogadas com bolas feitas de seringa, dificílimas de serem controladas, por causa da superfície irregular.
Quando, aos 10 anos, a família se mudou para a capital, Rio Branco, Neivo logo arrumou uma vaguinha no time infantil da Rodoviária, dirigido pelo professor Rivaldo Melo, que disputava torneios no campo da Fazendinha. Daí até aos 16 anos, Neivo alternou os jogos pela Rodoviária com muitas peladas numa quadra que ficava dentro do estádio José de Melo.
Foi justamente numa dessas peladas, em 1977, que ele atraiu a atenção de um ex-centroavante e técnico dos juvenis do Independência chamado Bebé. Canhoto, veloz e exímio driblador, Neivo encaixou como uma luva no Tricolor de Aço. Ficou dois anos na base e passou, em 1979, a ser convocado para a reserva do time principal pelo técnico Walter Félix de Souza, o Té.
“Eu estreei no time de cima do Independência em 1979, num jogo contra o Rio Branco. A gente estava perdendo por 1 a 0 e eu entrei faltando 10 minutos para o fim do jogo. Fiz o gol do empate e depois viramos o placar para 2 a 1. Mas eu não fiquei titular. O Tricolor tinha um timaço. O titular na minha posição era o Tonho. Foi um período de aprendizado”, disse Neivo.
Mudança de camisa, titularidade e outros clubes
Em 1980, um ano depois de estrear no time principal do Independência, Neivo se mudou para o Atlético Acreano, onde permaneceu por duas temporadas. “Eu fui para o Galo a convite do técnico Antônio Leó que, por coincidência, era meu sogro. Aí eu virei titular absoluto, jogando ao lado de muita gente boa. Só tinha cara bom de bola no elenco”, falou Neivo.
Quando chegou 1982, após começar a temporada no Atlético, Neivo voltou para o Tricolor, seduzido por uma proposta tentadora que incluía uma motocicleta “zerada”. Daí até 1988, ele passou por outros três times: Rio Branco, Juventus e Vasco da Gama, parando de jogar aos 28 anos. “O Vasco não pagava direito e eu acabei perdendo o estímulo”, explicou o ex-craque.
Nesse tempo todo dentro de campo, apesar de fazer parte de grandes elencos, sempre sob a direção de técnicos renomados, o ponteiro-esquerdo Neivo Vilacorta Araújo somente conquistou dois títulos de campeão, ambos pelo Rio Branco: o do campeonato acreano de 1983, em cima do Atlético; e o do Copão da Amazônia de 1984, contra o Baré, na cidade de Macapá.
“Eu acho que esses anos de 1983 e 1984 foram os melhores da minha carreira. Além dos títulos, eu acabei me tornando um dos artilheiros do Rio Branco, atrás apenas do Gil, que era um centroavante importado do interior do Paraná, e do Roberto Ferraz. Nós formávamos um ataque arrasador: eu na esquerda, o Roberto na direita e o Gil no meio”, garantiu Neivo.
Jogo inesquecível e grandes personagens
Neivo elegeu como seu jogo inesquecível o terceiro da fase final do Copão da Amazônia de 1984, no Amapá. O Rio Branco havia vencido o Flamengo-RO por 3 a 0 e perdido do Independente-AP por 2 a 1. Precisava vencer o jogo contra o Baré para continuar vivo. Ele, que começou no banco, entrou em campo para fazer o gol da vitória do Estrelão por 2 a 1.
Quanto às figuras dos melhores técnicos, dirigente e árbitro, Neivo escolheu, respectivamente, Aníbal Tinoco e Walter Félix (“sabiam tudo de futebol”); Wilson Barbosa (“não atrasava o pagamento e dava dinheiro extra quando a gente ganhava do Juventus”); e Ribamar, porque “apesar de fazer piadas e às vezes xingar os jogadores, sabia como conduzir uma partida”.
No tocante ao lateral mais duro que enfrentou, Neivo citou Sergio Lopes. “Era um lateral nojento, só faltava comer as minhas pernas. Não deixava nem eu dominar, já estava me empurrando. Chegava junto”, afirmou o ex-ponteiro. E no que diz respeito aos melhores parceiros dentro de campo, ele lembrou de Carioca, Gil e Mariceudo, todos do Rio Branco de 1983.
Para finalizar, o personagem, ao tempo em que criticou o nível técnico dos boleiros atuais (segundo ele, “hoje tem estádio, mas não tem craque”), não se negou a escalar um time perfeito de ex-jogadores do futebol acreano. Para ele, esse time formaria com: Ilzomar; Paulo Roberto, Neórico, Paulão e Duda; Mário Vieira, Dadão e Mariceudo; Roberto Ferraz, Gil e Neivo.
(*) Com a participação de Márcio Chocorosqui