Ex-craque Neném, aos 34 anos. Foto/Acervo José Maria Carneiro.

Neném – Quinze anos de bola, inúmeras camisas e dois continentes

Francisco Dandão

Onze times em dois continentes tiveram a felicidade de contar com o futebol elegante do meia atacante José Maria Carneiro da Silva, o Neném. De 2006 a 2020, ele vestiu as camisas de Rio Branco, União Rondonópolis-MT, Litex Lovech e Botev Vratsa (ambos da Bulgária), Boa Esporte-MG, Penapolense-SP, Mixto-MT, Atlético Acreano, Galvez, Adesg e Andirá.

Nascido em Sena Madureira, no dia 20 de setembro de 1986, pode-se dizer que Neném seguiu os passos de outros dois membros da família no mundo do futebol: o lateral Ley (irmão) e o atacante Doka (primo). E assim, aos 16 anos, ele já estava incorporado às divisões de base do Rio Branco, onde ganhou títulos até 2006, quando foi promovido à equipe principal.

“Os titulares da minha posição, na época, eram o Dema e o João Paulo: dois craques. Eu passei o campeonato todo na reserva. Aí um deles se contundiu e o outro foi suspenso. Entrei justo na final do turno, contra a Adesg, time fortíssimo, tanto que acabou sagrando-se campeão daquele ano. O jogo saiu empatado e nós perdemos nos pênaltis”, explicou Neném.

Apesar desse insucesso inicial, Neném jogou bem e passou a revezar no meio de campo com os então titulares. E até 2010, quando se transferiu para o União Rondonópolis, o talentoso meia sagrou-se campeão estadual três vezes (2007, 2008 e 2010). Foi um período em que o seu futebol chamou a atenção de empresários, rendendo-lhe uma transferência para o exterior.

Neném, em ação, com a camisa do time de juniores do Rio Branco contra o arquirrival Juventus na temporada 2006. Foto/Manoel Façanha.
O volante alvirrubro Neném ergue o troféu de campeão de juniores de 2006. Foto/Manoel Façanha.
Rio Branco – 2007. Em pé, da esquerda para a direita. Dorielson Mendes (preparador de goleiros), Vinícius, Ismael, Neném, Ico e Marquinhos Costa. Agachados – Doka Madureira, Testinha, Juliano César, Zé Marco, Esquerdinha e Ley. Foto/Manoel Façanha.
Na Série C de 2007, o então jovem volante Neném faz marcação forte contra meia do Fast Club. Foto/Alexandre Fonseca.

A aventura no exterior, alegrias e decepções

Neném com a camisa do Litex Lovech, da Bulgária, em 2011. Foto obtida na Internet.

Em 2008, aos 22 anos, jogando o Campeonato Brasileiro da Série C pelo Rio Branco, Neném e o primo Doka Madureira foram vistos por um empresário de nome Rogério Pereira, num confronto em Goiânia, contra o Atlético Goianiense. O Estrelão perdeu aquele jogo, mas o destino dos dois acreanos estava traçado. Logo eles iriam gastar sua bola no futebol europeu.

“Depois desse jogo em Goiânia, o empresário veio ao Acre assistir o nosso jogo contra o Guarani. Ganhamos bem nesse dia. O empresário se convenceu que eu e o Doka poderíamos jogar num centro mais avançado. Fomos chamados lá no hotel onde ele estava e as propostas foram feitas. Ficou certo que iríamos para a Bulgária. Doka foi primeiro”, disse Neném.

“Quando eu fui para a Bulgária, em 2010”, continuou Neném, “posso dizer que vivi uma grande alegria. Pra mim era a realização de um sonho. Eu ia jogar na Europa e ganhar bem, em dólares. Só que depois veio a decepção. Quando cheguei lá tudo deu muito certo dentro de campo. Mas, do lado de fora, fui várias vezes assaltado e vítima de racismo. Aí fui obrigado a voltar”.

De acordo com Neném, outra das suas grandes alegrias dentro de campo ocorreu na vitória sobre o Bahia, por 3 a 2, no Campeonato Brasileiro da Série C de 2007. “Um show do Estrelão”, disse. E a outra grande decepção foi perder o título estadual de 2014 para o Rio Branco, jogando pelo Atlético. “A gente jogava pelo empate e tomamos o gol no finalzinho”, falou Neném.

Nomes de destaque do futebol acreano

Neném não hesitou em apontar o jogador que melhor lhe marcava. Para ele, o cara mais difícil de jogar contra foi o Mamude. “Um volante pegador mesmo, desses que não saía de perto da gente”, afirmou o ex-craque. E quanto ao melhor parceiro de equipe, Neném apontou o Testinha. “Um craque de bola, técnico e inteligente, que sabia tudo de bola”, garantiu.

No tocante ao melhor treinador com o qual trabalhou, Neném disse ser impossível citar somente um nome. Para ele, foram muito bons, cada um dentro das suas características, João Carlos Cavallo (que o lançou no time profissional do Rio Branco), Everton Goiano, Tarcísio Pugliese, Luciano Dias (que o dirigiu na Penapolense-SP) e Zé Marco. Como melhor dirigente, ele elegeu Natal Xavier. E o melhor árbitro pra ele foi Antônio Neuricláudio.

Modesto, Neném não quis se auto escalar na seleção acreana da sua época. Pra ele, um time perfeito (ou, pelo menos, “muito forte e difícil de ser batido na região Norte do país”) formaria com Ronaldo; Ley, Marquinhos Costa, Dudu e Ananias; Zé Marco, Ismael e Testinha; Doka Madureira, Marcelo Brás e Juliano César. “Esses caras jogavam muito”, disse Neném.

Com as chuteiras recém-penduradas (ele jogou pelo Andirá no campeonato estadual de 2020), Neném disse que nos seus planos de futuro consta o de fortalecer um projeto social que ele desenvolve hoje na Cidade do Povo, bairro onde mora, atendendo crianças e adolescentes. “Acredito que, com isso, a gente pode tirar muitos deles da marginalidade”, concluiu.

Neném em ação na vitória do Rio Branco contra o Bahia por 3 a 2, pela Série C 2007. Foto/Manoel Façanha.
Atlético Acreano – 2014. Em pé, da esquerda para a direita: Marcos Rocha (treinador de goleiros), Esquerdinha, Ceildo, Diego, Josy, Máximo e Wilson. Agachados: Juliano César, Neném, Araújo Goiano, Sandro e Eduardo. Foto/Francisco Dandão.
Neném em treino do Mixto-MT, em 2014. Acervo/ José Maria Carneiro
Adesg – 2017. Em pé, da esquerda para a direita: Máximo, Marcos, Diego Brasília, Alexandre, Rener e Paulinho Pitbull. Agachados: Diego, Zagalo, Marcelo Brás, Fernando e Neném. Foto/Manoel Façanha.
Galvez – 2018. Em pé, da esquerda para a direita: Zé Marco (técnico), Acosta (treinador de goleiros), Pablo (auxiliar), Gilson, Taffarel, Léo Mineiro, Máximo, Rafael e Tita (massagista). Agachados: Celsimar (preparador físico), Chumbo, Tonho Cabañas, Daniego, Ciel, Neném e Thaumaturgo. Foto/Francisco Dandão.
Andirá – 2020. Em pé, da esquerda para a direita: Paulo Alessandro (técnico), Ericon, Lucas Nunes, Higor da Silva, Kaisson, Felipe Paranhos e Anderson Hermínio. Agachados: Thiago Marques, Michael Wallace, Neném, Willismar e Carlos Henrique. Foto/Leandro Rodrigues.