A notícia eu recebi pelas redes sociais. Os amigos Riba Sam e Francisco Saraiva, de forma quase simultânea, foi que me avisaram: o carioca Nirval, ponteiro esquerdo do Atlético Acreano por quase toda a década de 1970, havia apagado o sorriso e partido para a eternidade.
Nirval foi um dos quatro primeiros jogadores importados para as fileiras do Galo. Os outros três da leva inicial foram Carlão e Manoelzinho (zagueiros) e Bené (atacante). Quem os contratou foi o dirigente Fernando Diógenes. Corria o ano de 1972 e o Atlético queria pintar o céu de azul.
Nirval estava com 19 anos, treinando no Fluminense, depois de jogar nos juvenis do Volta Redonda e do Madureira. Era um garoto de futuro promissor. Mas vivia um grande impasse: o Madureira queria uma grana preta para liberá-lo ao Fluminense. Este, por sua vez, não queria pagar.
Para jogar num time amador do Acre, o Madureira não se importava. A ideia era a de que ele ficasse uma temporada, ganhasse experiência e voltasse para o time do subúrbio carioca. O destino, porém, tratou de elaborar outros planos para o Nirval. E assim, ele fixou raízes no Acre para sempre.
Engana-se, porém, quem pensa que Nirval ficou no Acre unicamente por causa do futebol. Embora ele fosse tido, em nível local, como um jogador acima da média, dois outros fatores foram decisivos para a permanência dele em solo acreano: um casamento e um emprego no serviço público federal.
Três anos depois de chegar ao Acre, Nirval estava casado e com um emprego para toda a vida. Ele dava expediente apenas em um período. Dessa forma, podia continuar jogando a sua bola. Somando os dois salários, ele ganhava bem mais do que ganharia se voltasse ao futebol profissional.
Tímido em excesso, Nirval nunca foi de conversar muito. De modo geral, só fazia sorrir quando um interlocutor lhe fazia alguma provocação, comparando-o com algum cabeça-de-bagre ou afirmando que teve lateral adversário que, lá pelas tantas, num jogo tal, dera um nó nas pernas dele.
Ele gostava, entretanto, de lembrar o dia em que os companheiros do Atlético forçaram o técnico Té a escalá-lo. Ele foi barrado pelo treinador numa decisão contra o Juventus, em 1977. O resto do time se recusou a entrar em campo. Nirval jogou e sofreu o pênalti que decretaria o empate final.
Nirval é mais um ex-craque do futebol acreano convocado para uma seleção celestial. Carlão e Bené, dois dos três parceiros que vieram com ele para o Acre, e Fernando Diógenes, que o tirou do Rio de Janeiro, também já viajaram para o além. Que as suas memórias permaneçam vivas entre nós!