Por certo a maioria dos jogadores – se não todos – que se encontrava no CT do Flamengo na hora do incêndio, estava lá por que foi recomendado por empresários ao clube. Para chegar ao ponto de dormir nas dependências do centro de treinamento do time, é por que já atravessara peneiras e peneiras e também o sistema de QI (quem indica) tão conhecido no mercado.
Provavelmente existiam naquele local alguns candidatos a craque, mas que tiveram o sonho interrompido por algo nunca imaginado por eles, depois de viverem a tensão de entregarem a alma a um agente de futebol cheio de apalavramento, mas de pouquíssima confiança.
Mas fazer o quê! Os pais que sonharam tanto para que aqueles meninos alcançassem esse momento de estar dentro do clube, tiveram que antes ser complacentes com o venal sistema.
Ah, esse sistema, onde joga-se promessas às feras, em lugares insalubres, para ver se dar certo. Pode ser um puxadinho qualquer, desde que dos 30, 40 meninos, sobrem uns cinco para atuar pela equipe e, mais à frente, virem peça de negociação ao exterior, por um punhado de dinheiro.
A formação na base do futebol brasileiro virou esse improviso, com interesses diversos e a presença de empresários inescrupulosos, dirigentes inconsequentes e pais negligentes. O garoto, coitado, faminto e esperançoso, vai sendo envolvido pela bolha insana, onde não há qualquer reflexão sobre a realidade fora das quatro linhas – como se isso fosse um martírio necessário.
Torna-se martírio necessário por que quase não sobra oportunidade depois de enfrentar o banco da escola pública, a violência diuturna, o tráfico na porta de casa e a falta de dinheiro para comprar mais do que o arroz e o feijão.
A base do futebol brasileiro é um fracasso atrás do outro. O último mais óbvio nos gramados ocorreu no Sul-Americano Sub 20, realizado dias atrás, quando o Brasil, de novo, não conseguiu se classificar para o Mundial – ficou em quinto lugar no torneio com quatro vagas para a competição maior.
O quadro é esse dentro e fora de campo. As esperanças são poucas de mudança a curto prazo. E o pesadelo prossegue.