Não raras vezes (ou seria melhor dizer “quase sempre”?), a vida imita a arte (e vice-versa). Fiquei pensando nessa parada ao lembrar de um conto/crônica do escritor mineiro Fernando Sabino (1923 – 2004), com o título “O homem nu”, publicado em livro no já distante ano de 1960.
No texto do Fernando Sabino, um sujeito, cedo da manhã, tira toda a roupa para tomar um banho antes de sair para o trabalho. Mas eis que a mulher dele lhe toma a frente e entra no banheiro primeiro. E então, a criatura decide preparar um café assim mesmo do jeito em que veio ao mundo.
Antes, porém, ele resolve pegar o pão, que todos os dias o padeiro deixava do lado de fora do apartamento. Nu do jeito que estava, ele abre a porta, olha para todos os lados e, não vendo nenhum vizinho por perto ou sinal de movimentação no elevador, dá dois passos para pegar o tal pão.
Mal ele sai do apartamento, um vento faz a porta bater às suas costas. A porta é dessas que só abre por dentro, e o sujeito fica nu em pleno corredor. Como a mulher está dentro do banheiro, não adiantam os apelos reiterados dele para ela lhe abrir a porta. Aí, é lógico, bate nele um grande desespero.
Então, como a vida imita a arte (ou vice-versa), um dia desses aconteceu com o ex-craque do futebol acreano Neivo (campeão do Copão da Amazônia, vestindo a camisa do Rio Branco, em 1984, em Macapá) quase a mesma coisa narrada no conto/crônica do escritor mineiro Fernando Sabino.
Com o Neivo, que nos seus tempos de craque driblava até o vento, o fato insólito deu-se quando ele, sozinho em casa, resolveu levar um saco de lixo para o depósito na calçada, aí por volta das cinco horas da manhã, levando-se em conta que o caminhão coletor costuma passar às 5h30.
Tal como no texto do Fernando Sabino, a porta bateu deixando o Neivo do lado de fora. Diferentemente, porém, do personagem de ficção, o Neivo, por sorte, não costuma sair de casa pelado. As vestes eram sumárias (no caso uma daquelas cuecas supermacho), mas o Neivo não estava despido.
De qualquer forma, de cueca supermacho o Neivo não poderia ir pra lugar algum. E o pior é que o ex-craque precisava, aí por volta das seis horas, ir ao mercado, fazer as compras do fim de semana. E como o dia já estava amanhecendo, logo começaria a passar um monte de gente pela rua.
A solução foi o ex-craque se esgueirar até aos fundos da casa do vizinho, bater na porta e explicar a situação. Compreensivo, o homem emprestou para o Neivo uma bermuda e uma camiseta. Final feliz, com o Neivo prometendo a si mesmo jamais dar um passo fora de casa só de cueca!