O macumbeiro inimigo

O futebol, eu não me canso de dizer, não se resume aos minutos jogados (os 90 e mais os acréscimos), aqueles que todo mundo vê. Absolutamente não. O futebol é muito mais do que isso. É também o que antecede a partida, aquilo que se convencionou chamar de “bastidores”.

A propósito disso aí que eu disse no primeiro parágrafo, eu estava lembrando por esses dias de uma situação ocorrida com a Seleção Acreana de Juniores de 1979, que disputou o Campeonato Brasileiro da categoria, com sede na bela Boa Vista, capital do acolhedor estado de Roraima.

A referida seleção acreana, dirigida pelos saudosos Airton Baú (atacante lendário do futebol estadual) e Campos Pereira (ex-zagueiro e radialista dos mais importantes da história do Acre), saiu de Rio Branco cheia de expectativas de fazer boa figura e atropelar os seus adversários.

Todo mundo acreditava naquela seleção acreana. Afinal, nela pontificavam vários garotos muito talentosos, a maioria deles, apesar da pouca idade, já fazendo parte dos elencos principais dos respectivos clubes. Com tanta gente boa, os meninos saíram do Acre com ares de favoritos.

Na posição de goleiro, por exemplo, disputavam a titularidade ninguém menos do que Normando e Klowsbey. Com qualquer um dos dois, a meta acreana estaria bem guardada. Enquanto isso, para a zaga estavam disponíveis, entre outros, os ótimos Moisés, Jaime, Lécio, Cleber e Markito!

Sem falar (mas já falando) dos atacantes Roberto Ferraz, Ademir Pereira (o famoso Gorão), Neto e Litro, bem como dos meias/volantes Carioca, Edson Izidório, Gilmar, Viete e Gerson. Tudo figurinha carimbada nas listas da galera que frequentava o “Vietnã” do vetusto “José de Melo”.

Quando a bola rolou, porém, nada saiu como estava previsto e a seleção acreana apenas empatou com os seus dois primeiros adversários: 0 a 0 com a seleção amazonense e 1 a 1 com a seleção de Roraima. Fato que transformou de vida ou morte o terceiro jogo, contra a seleção do Amapá.

Sabendo da situação da turma do Acre, eis que na manhã do jogo contra o Amapá, apareceu um sujeito na concentração da seleção acreana se dizendo de profissão macumbeiro e garantindo que sabia como acabar com o “azar” que amarrava as pernas dos jovens craques e os impedia de vencer.

Airton Baú e Campos Pereira se reuniram, fizeram uma vaquinha e resolveram contratar o sujeito. Serviço feito, os meninos foram para o jogo. Mas a exibição foi pior do que as anteriores e levaram um pau de 3 a 0 do Amapá. Só uns dias depois foi descoberto que o macumbeiro era amapaense!