O maestro Ancelmo

O Fluminense, tricolor mais lindo do mundo, tomou um susto no meio da semana. Com menos de 15 minutos de jogo, pela Copa do Brasil, já perdia por 2 a 0 para o Moto Clube do Maranhão. Com tão pouco tempo de bola rolando, era um placar que parecia anunciar um desastre pra lá de inevitável.

Eu, refestelado na minha poltrona favorita, via aquilo e não acreditava muito no que estava acontecendo. Afinal, a diferença de estrutura entre as duas equipes é enorme, abissal mesmo. A folha salarial do time carioca é maior do que a do time maranhense dezenas de vezes. Bota dezenas nisso.

Fiquei pensando no que poderia estar contribuindo para aquele placar tão inusitado. Teriam os jogadores do Fluminense dado um pulinho aos Lençóis Maranhenses ou às ruínas de Alcântara e, nesse caso, estariam cansados da viagem? Ou então, teriam abusado do arroz de cuxá? Hein, hein?

O arroz de cuxá, para quem não sabe, é um prato típico da culinária maranhense, feito com vinagreira, gergelim, camarão seco, farinha de mandioca seca e pimenta de cheiro. Alguns comensais amam, outros detestam. Detalhe: os que amam costumam sempre exagerar nas porções.

Independentemente, porém, de algum eventual fator externo que pudesse estar afetando o desempenho do Fluminense àquela altura da partida, o certo é que um jogador do Moto Club estava roubando a cena. Justamente o acreano Ancelmo, um maestro no meio-campo rubro-negro.

O Ancelmo, que começou a jogar futebol numa escolinha do bairro Calafate, na periferia de Rio Branco, deu um nó na marcação dos volantes do Fluminense no primeiro tempo do jogo. Lucidez, toques de primeira, clarividência, percursos impossíveis, tudo isso o Ancelmo fazia em campo.

Prestes a completar 30 anos (ele nasceu no dia 3 de abril de 1990), o Ancelmo já rodou o mundo mostrando a sua arte. Que eu me lembre, assim de cabeça, ele já vestiu as camisas do Guarani (SP), Metropolitano (SC), Mixto (MT), Galícia (BA), Bragantino (SP), Boavista (Portugal) e Altos (PI).

Eu via o desempenho do Ancelmo e ficava imaginando ele do outro lado do campo, com a camisa do Fluminense, jogando ao lado do Nenê. O Ancelmo, destro, pelo lado direito, e o Nenê, canhoto, pelo lado esquerdo. Dois meias de extrema criatividade. O Tricolor ficaria um time irresistível.

Tudo devaneio da minha cabeça pirada. O certo é que o acreano Ancelmo jogou pra caramba. O certo é que o Fluminense virou o jogo (com ou sem Lençóis Maranhenses, Alcântara ou arroz de cuxá). E o certo é que o técnico do Fluminense jamais vai jogar com dois meias. É isso. Tenho dito!