De vez em quando eu encontro acreanos num supermercado perto de onde eu moro, em Fortaleza. Já encontrei vários. De cabeça, assim, enquanto escrevo, lembro de pelo menos três deles: o engenheiro Sebastião Fonseca, o poeta José Augusto Fontes e o virtuose da música Joãozinho Rocha.
Aí, papo vai, papo vem, a gente acaba gastando alguns minutos de conversa lembrando histórias antigas do futebol acreano. E então, as jogadas dos eternos craques da aldeia são contadas de um para o outro como se tivessem acabado de acontecer. Para a memória, nada é assim tão distante.
Quer dizer, nem somente as jogadas dos craques é que costumam ser lembradas. No meio da conversa, aqui e ali, a gente vai se lembrando também dos “crueiras”. Aqueles sujeitos que tanto batiam quanto maltratavam a bola. Nada mais natural. Afinal, só existem craques por causa dos “crueiras”.
O raciocínio é simples: se todo mundo jogasse muita bola, tudo ficaria tediosamente nivelado. Provavelmente não haveria o drible desmoralizante e os lances de efeito se sucederiam, sem que isso causasse algum espanto nos torcedores. O brilho do craque é maior por causa da ruindade do “crueira”.
Mas o que eu quero dizer mesmo é que nessas de encontrar acreanos num supermercado de Fortaleza, um dia desses eu me deparei com o advogado xapuriense Joraí Salim Pinheiro. De férias (pela terceira ou quarta vez no ano), ele escolhera a capital cearense para pegar uma boa chuva.
Cito a chuva por causa de um argumento dele quando começamos a trocar ideias. Eu disse que ele havia escolhido um péssimo momento para vir ao litoral. E ele me respondeu que a escolha havia sido estratégica e que simplesmente não aguentava mais o sol do Acre, ainda que no inverno!
Aí, mudando de assunto e emendando com o futebol acreano das antigas, ele me contou uma história do lateral Otávio Lunguinha, falecido em 2014, que vestiu as camisas do Independência e do Juventus. No dizer do Joraí, não houve maior secador no futebol do Acre do que o Otávio.
Segundo o Joraí, embora o Otávio fosse reserva, tanto num quanto no outro time, ele sempre jogava, uma vez que os laterais titulares sempre se machucavam (às vezes momentos antes do jogo). “O Otávio jogava nas duas laterais. Então, quando não dava de um lado, dava do outro”, disse o Joraí.
No Juventus, os laterais da época eram o Mauro (direito) e o Antônio Maria (esquerdo). No Independência eram o Chico Alab (direito) e o Flávio (esquerdo). “O Otávio secava tanto os titulares que às vezes os caras se contundiam até na hora da massagem”, concluiu o Joraí gargalhando!