É um tempo carregado de acontecimentos esse que a gente vive. Parece que tudo resolveu acontecer de forma simultânea. O que está aqui no que se convencionou chamar de presente, numa fração de segundo não está mais. O resultado disso é que sobra pouco espaço para a memória. E, dessa forma, todo mundo vive mais é na expectativa do que está por vir.
Viver é o que virá. Assim, aquela metáfora cinematográfica que eu usei na crônica passada para falar do duelo Rio Branco e Anapolina, pelas oitavas de final do campeonato brasileiro da série D, aquela do Matar ou Morrer, não vale mais. Os dois contendores, que empataram em um a um no jogo da ida, continuam vivos e no páreo. Até que os gols os separem!
Nós todos sabíamos que o duelo era de cento e oitenta minutos. Eventualmente (só eventualmente), até que a fatura poderia estar liquidada a essa altura. Teria bastado que um dos duelistas houvesse sapecado uma goleada para cima do outro. Prevaleceu, porém, o equilíbrio. E tudo ficou para ser resolvido no próximo sábado, na Arena da Floresta aqui de casa.
Teoricamente, o resultado foi favorável ao Rio Branco. Um dos mantras repetido à exaustão no mundo futebolístico é o de que “empate na casa do adversário deve ser considerado vitória”. Por esse prisma, o time acreano, agora que foi invertido o mando de campo, leva alguma vantagem e posa de favorito. O detalhe é que às vezes a prática contraria a teoria.
Voltando, entretanto, ao fio da meada, o que eu dizia lá nos primeiros parágrafos destas retilíneas de hoje é que o tempo não se repete e agora eu preciso de outro título de filme para metaforizar esse próximo confronto entre acreanos e goianos. Penso daqui, penso dali, acabo chegando em “O sobrevivente”. Exatamente isso. “Melhor, impossível”.
Existem vários filmes com esse título. Esse que eu me refiro foi protagonizado pelo ex-governador da Califórnia, o fortão Arnold Schwarzenegger. Na trama, ambientada num futuro próximo, criminosos sentenciados devem lutar entre si até que somente um sobreviva. Ao vencedor, aquele que matar todos os outros, será concedida a liberdade.
A liberdade, no caso aqui em evidência, é a ascensão para a série C. Aí reside uma diferença entre a vida real e a ficção retratada em “O sobrevivente”. Nesta, a vista no cinema, as regras do jogo determinavam que somente um combatente obtivesse a liberdade; naquela, a da vida real da disputa futebolística, são quatro os ungidos com o prêmio máximo.
É claro que nós acreanos esperamos que o Rio Branco, na hora em que os créditos estiverem subindo na tela, um pouquinho antes daquele indefectível The End de praxe, tenha matado os seus adversários e seja um dos quatro sobreviventes. Mas que ninguém se iluda: vai ser uma batalha pra lá de complicada. E com um detalhe: o Schwarzenegger não vai jogar!
Francisco Dandão