O ex-presidente do Barcelona, Sandro Rosell, tem problemas – muito além dos expostos pela mídia brasileira – que o levou a prisão na Espanha, dias atrás, por escusos negócios com Ricardo Teixeira relacionados aos amistosos da Seleção Brasileira. Embora a imprensa por aqui aborde o caso como lavagem de dinheiro de forma genérica, na Europa o assunto é tratado de maneira mais específica: principalmente cobrança de comissões ilegais de diretos de televisão de jogos do time do Brasil – como a TV Globo detém esses acordos, não precisa dizer o acanhamento dos jornalistas tupiniquins em expor o assunto.
Sandro Rosell foi dirigente da ISL na Espanha na década de 1990. A empresa de marketing suíça, ligada a Fifa, abasteceu os bolsos de João Havelange e Ricardo Teixeira naquela época de forma sistemática – fato que resultou na expulsão de ambos dos quadros da entidade máxima do futebol.
As informações que se tem são de que já naquele período Rosell intermediava parte do dinheiro desviado por Havelange e Teixeira – a estratégia de ambos era cobrar propina dos contratos fechados com a ISL, que faliu em 2000. Quem apurou muito bem essa questão foi o jornalista Jamil Chade, publicada no livro “Política, propina e futebol – como o ‘Padrão Fifa’ ameaça o esporte mais popular do planeta”.
O ex-presidente do Barça foi executivo da Nike, no tempo em que a CBF mudou de empresa que fornecia os uniformes para a Seleção Brasileira. A entidade optou pela marca norte-americana a partir de contratos suspeitos, de acordo com uma CPI na Câmara criada, em 2000, para discutir justamente esse tema – dois anos atrás a justiça norte-americana resolveu denunciar o caso por que as operações (ilegais) eram feitas com uso de empresas abertas nos Estados Unidos.
E, ao mesmo tempo, o FBI passou a investigar o abastecimento de contas de Sandro Rosell por meio de contratos fechados de amistosos do Brasil pelo mundo afora. O fato suspeito mais conhecido da dupla Sandro Rosell-Ricardo Teixeira foi um escandaloso amistoso, realizado em 2008, em Brasília, entre a Seleção Brasileira e Portugal, onde várias despesas foram superfaturadas.
Um dos que não querem ver o espanhol “nem pintado de ouro” é o grupo DIS, que tinha participação de direitos do jogador Neymar, vendido em 2013 ao Barcelona, quando Sandro Rosell era presidente do clube catalão. Segundo os investidores, houve fraude na venda (envolvendo Rosell e a família de Neymar), lesando em milhões de dólares o fundo.
Rosell exemplifica o jogo sujo do futebol global. Ele é a outra face dos agentes da corrução no futebol, além de cartolas encastelados nas entidades e seus intermediários, como J. Hawilla e Klébler Leite, na relação com emissoras de TV e patrocinadores. Sandro Rosell circulava também em clubes e empresas, a outra ponta desse rendoso “negócio”.