Meu prezado amigo Antônio Martins, vulgo Toinho Bil, me telefonou protestando, querendo saber os motivos pelos quais o Saraiva, lateral-direito do Americano da Cadeia Velha, na década de 1970, ganhou o direito de ser entrevistado por mim, e ele (Toinho) até hoje não teve essa primazia.
Então, como eu sou um sujeito sensível, não me fiz de rogado e mandei, via e-mail, perguntas para o Bil, as quais ele prontamente respondeu. Ele escreve fácil e as suas respostas dariam um livro grosso. Mas, como eu não tenho muito espaço, transcrevo abaixo um resumo das palavras dele.
Pergunta: Como foi a sua iniciação no futebol?
Toinho Bil: Eu comecei “furando” o jogo, no estádio José de Melo, por um buraco que tinha no muro, no bairro da Capoeira. Depois disso, eu subi de posto e passei a entrar pelo portão, carregando as chuteiras do Ademir Sena.
Pergunta: Mas contato com a bola mesmo, quando se deu isso?
Toinho Bil: Eu batia pelada num campinho atrás do Hospital lnfantil. Tinha uns jogadores importados pelo Rio Branco, o Padreco, o Fernandinho, o Vale, o Peroaba, o Adauto, que moravam por perto e todos os dias marcavam ponto no campinho. Eu me enturmei com eles e ficava batendo bola. Cansei de dar xagão no Fernandinho e banho de cuia no Padreco.
Pergunta: E depois, quando você foi jogar num time federado?
Toinho Bil: Um olheiro, que eu não lembro o nome, me levou para o juvenil do Juventus, logo depois de eu completar 17 anos. O treinador era o Júlio D’Anzicourt que me aprovou para jogar na lateral-esquerda.
Pergunta: Quem era o titular dos juvenis do Juventus na sua posição?
Toinho: Era o Cara Rachada. Cheguei e tomei o lugar dele. O Cara Rachada precisou ser deslocado para o lado direito. Ou ia ou não jogava.
Pergunta: Quais eram as suas características?
Toinho Bil: Eu gostava de jogar apoiando o ataque, estilo Antônio Maria. Dizem que eu jogava tanto quanto ele, que era considerado o melhor lateral-esquerdo do futebol acreano na época.
Pergunta: E por que você não subiu para o time principal?
Toinho: Eu cheguei a ficar na reserva algumas vezes. A questão é que eu me desgostei porque um dia, jogando pelo juvenil, contra o Atlético, marquei um gol, cabeceando de peixinho, depois de um cruzamento do Paulinho. Mas o juiz Porco Russo anulou, alegando que eu estava impedido.
Pergunta: Você jogou a carreira fora só por causa de um gol anulado?
Toinho Bil: Você acha pouco? Eu não marcava um gol há cinco anos, nem na pelada do Hospital Infantil, aí quando eu marquei veio um cara e anulou. Fiquei puto mesmo. Cheguei em casa, fiz uma fogueira, queimei as chuteiras e fui ser funcionário público. Azar do futebol!