Francisco Dandão
Dentro da série de perfis de ex-atletas do esporte acreano, outro dia escrevi a história do meu amigo Lauro Fontes, goleiraço do futebol de salão das quadras regionais. Na verdade, levando-se em conta a limitação do espaço, o texto, como é de praxe, se limitou a um resumo da história dele.
Aí, o também meu amigo Chico Viana, irmão do Lauro, passou a me cobrar outros eventos do personagem que não entraram naquele texto. Principalmente, insistia o Chico, a narrativa envolvendo uma “senha” que fazia o Lauro passar, de uma hora para outra, de “paredão” a “frangueiro”.
Eu acho que já contei essa história em alguma das minhas duas mil e cacetadas de crônicas publicadas sobre o tema esportivo. Mas, como eu não posso negar o pedido de um amigo dileto, com o qual trabalhei na mesma instituição pública (a Ufac) durante mais de 30 anos, vou contar outra vez.
O drama acontecia quando o Lauro, em dia de muita inspiração, não estava deixando passar nada, segurando as maiores bombas que os artilheiros mandavam para as suas traves. Bola de bicuda, bola com efeito, chute de longa distância, disparos à queima-roupa, nada conseguia vencer o goleirão.
Então, como quem não queria nada, um adversário resolvia xingar a mãe do Lauro. O cara chutava e dizia algo como: “pega, filho da p”. Era a senha para o Lauro ir à loucura. Ele ficava tão raivoso e querendo beber o sangue do autor da frase que não via mais a bola. E então se abria a porteira.
Outra história pitoresca aconteceu quando o Lauro foi defender o Rio Branco, no futebol de campo, aí pela metade da década de 1970. Recém chegado do interior de São Paulo, onde passara três anos estudando técnicas agrícolas, o Lauro voltou para o Acre exibindo uma vasta cabeleira loura.
Por aquela época, o goleiro do Corinthians Paulista se chamava Ado. Alto, boa pinta e ex-integrante da seleção brasileira que havia sido tricampeã nos belos estádios do México, o goleiro Ado, que fazia um sucesso enorme com o público feminino, também cultivava esvoaçantes cabelos louros.
Como uma coisa puxa a outra, eis que, numa sexta-feira, num treino do Rio Branco antes de um jogo contra o arquirrival Juventus, confronto marcado para o domingo seguinte, na tentativa de promover a partida, o repórter de rádio Campos Pereira resolveu entrevistar o louro goleiro Lauro.
Pergunta do Campito: “Os torcedores estão dizendo que você parece com o Ado, goleiro do Corinthians. O que você acha disso?”. Resposta do Lauro: “Caro repórter, o que eu acho disso é que os torcedores estão errados. Eu não pareço com o Ado. Ele é que parece comigo”. Fecha o pano rápido!