Papo com antigos boleiros

Depois de uns meses de ausência, dou o ar da graça por Rio Branco. Infelizmente, a cidade me pareceu pior, mais mal tratada, do que há sete meses quando do meu último rolê pelo referido local. Não me lembro de tantos buracos “enfeitando” as “avenidas”. Os bairros periféricos causam dó.

Tive também a impressão de que os bares e restaurantes diminuíram. Além disso, os que resistem em manter as portas abertas não me pareceram tão frequentados nem alegres como outrora. Talvez os boêmios tenham desistido da noite… Ou talvez as blitzen do trânsito os tenham espantado.

Em contrapartida, me ocorre que os supermercados e as padarias se multiplicaram. Quase tenho certeza disso. Eu curto como poucos esses locais. Sempre se pode encontrar amigos diletos e outros conhecidos no café da manhã ou na hora de comprar mantimentos. E aí a conversa rola solta.

Pois foi justamente numa ida ao supermercado que eu encontrei na semana passada os ex-craques do futebol acreano Milton (goleiro do Juventus, do Atlético e do Independência, nas décadas de 1970 e 1980) e Bira (zagueiro do Rio Branco, no final dos anos 1960 e início dos anos 1970).

Craque do passado sempre tem histórias gloriosas pra contar. Na narrativa deles só teve jogada de efeito e sucesso, muito sucesso, dentro das quatro linhas. Nenhum, absolutamente nenhum, se lembra de algum drible humilhante que levou ou de algum gol frango. Isso a memória não registra.

O Bira, por exemplo, que jamais se notabilizou por algum tipo de intimidade com a bola, lá pelas tantas disse para mim e para o Milton que sempre levou vantagem sobre o Dadão. De acordo com o Bira, o Dadão, considerado o maior jogador do futebol acreano, jamais passou por ele.

Quanto ao Milton que, de fato, é o goleiro recordista de minutos sem tomar gols no Acre (mais de mil minutos sem ter a sua meta vazada), no seu dizer, quando estava inspirado e resolvia fechar o gol, não passava nem chute da marca penal. Ele contou que era mestre em adivinhar o canto do batedor

Naturalmente, como é de praxe nessas situações, um desmentiu a narrativa do outro. O Milton disse que o Bira foi tantas vezes driblado pelo Dadão que acabou desistindo da carreira. E o Bira garantiu que o Milton não enxergava nada de noite e que só pegava alguma coisa nos jogos diurnos.

Encontrar craques do passado é sempre uma viagem, tanto pelos escaninhos da memória quanto pelas ondas sonoras das gargalhadas. Os pontos e contrapontos se sucedem e encadeiam a cada palavra dita. Afinal, a história é só uma história… E fora isso, o homem é o único animal que ri!