O ex-zagueiro Pompeu, aos 60 anos. Foto/Acervo Francisco Evilásio.

Pompeu – Zagueiro de coração azul e uma só camisa

Francisco Dandão

 Nascido no seringal Capatará, no dia 20 de setembro de 1960, o cidadão Francisco Evilásio Barbosa do Nascimento virou “Pompeu” ainda na infância. O apelido foi posto pelos outros meninos do local que diziam ser ele parecido com um velho que morava numa “colocação” vizinha. E nem a mudança da família para a cidade do Quinari o fez perder a alcunha.

Aí, já na adolescência (aos 16 anos), depois das peladas no colégio, nas ruas e nos campinhos periféricos que marcavam o início da trajetória da maioria dos garotos bons de bola na décadas de 1970, Pompeu, que se destacava pelo vigor físico e pela seriedade com que disputava cada jogada, foi convidado para jogar no juvenil do time mais forte da cidade, o Quinari.

Quem descobriu o talento do garoto Pompeu foi um treinador chamado Adelá Gonçalves Vieira. Corria o ano de 1976 e a promessa de craque precisou de dois anos para ser chamado a vestir a camisa do time principal do Quinari. Em 1978, antes de completar 18 anos, Pompeu já era considerado um dos melhores zagueiros da charmosa “terra do amendoim”.

Daí para a mudança para o Atlético Acreano, um dos clubes mais tradicionais do Acre, foi só um pequeno passo. Ao testemunhar Pompeu em ação, o técnico Alício Santos, com um olhar apurado para os novos talentos do futebol do interior, não teve dúvidas: aquele zagueiro serviria como uma luva para defender as cores do Galo Azul do Segundo Distrito de Rio Branco.

Dois anos na reserva e uma estreia em alto nível

A chegada no Atlético foi excelente. Pompeu foi recebido por todos com muito afeto. O que ele não conseguiu foi entrar no time logo de cara. O Galo tinha dois titulares indiscutíveis no miolo da zaga: Lécio e Jaime. O primeiro, um dos maiores “xerifes” da história do futebol acreano. E o segundo, um jogador que frequentava há tempos as seleções de base do Acre.

“Eu fiquei dois anos no banco de reservas, entrando só muito eventualmente, quando um dos dois titulares se machucava ou estava suspenso. Só assumi mesmo a titularidade depois de algum tempo. Mas quando entrei, não saí mais. Permaneci titular até 1986, quando pendurei as chuteiras. Boa parte desses anos fazendo dupla com o Jaime”, disse Pompeu.

A estreia de Pompeu na equipe titular do Atlético foi contra o São Francisco. “Apesar de ser considerado um clube pequeno”, afirmou Pompeu, “o chamado time católico costumava dar um trabalho danado para qualquer um que cruzasse o seu caminho, naquela época. Felizmente, nós ganhamos de 2 a 0, eu joguei bem e ainda recebi muitos elogios pela minha atuação”.

Quanto aos motivos para pendurar as chuteiras de maneira tão precoce, Pompeu explicou que ficou sem tempo para treinar porque recebeu uma proposta para trabalhar com o pai num cartório. Ele disse que sabia que o futebol um dia acabaria. E que a proposta de trabalho poderia não acontecer mais no futuro. Diante da encruzilhada, trocou a trilha duvidosa pela certa.


Atlético Acreano – 1981. Em pé, da esquerda para a direita: Tidal, Pompeu, Gilmar, Cláudio E Erivaldo. Agachados: Manoelzinho, Medeirinho, Adriano, Toy e Joãozinho. Foto/Acervo Manoel Rodrigues.
Atlético Acreano – 1982. Em pé, da esquerda para a direita: Milton, Gilmar, Pompeu, Jaime e Lécio. Agachados: Manoelzinho, Neivo, Targino, Chiquinho, Valdir e Piru. Foto/Acervo Manoel Rodrigues.
Atlético Acreano 1984. Em pé, da esquerda para a direita: Neves, Joãozinho Cleiber. Pompeu, Tidal e Vela. Agachados: Adriano, Toy, Isaac, Tinda e Pato. Foto/Acervo Francisco Dandão.
Atlético Acreano – 1986. Em pé, da esquerda para a direita: Carlinhos Magno, Pompeu, Jaime, Pintão, Ricardo e Xepa. Agachados: Amarildo, Neném, Zito, Manoelzinho e Anísio. Foto/Acervo Francisco Dandão.

Poucos títulos e bons parceiros

Quinari (masters) – 1992. Em pé, da esquerda para a direita: Jacura, Mário Marcelo, Francisco, Sérgio Capelão, Pompeu, Zé Carlos, Zé Mago, Pedro Afonso, Nenê e Beto. Agachados: Toinho, Afonso, Josean, Norinho, Dilá, Juarez e Nego Coira. Foto/Acervo Francisco Evilásio.

Pompeu não conquistou campeonatos jogando pelo Atlético Acreano. Os únicos títulos que ele ostenta no currículo são de competições municipais, com a camisa do Quinari Esporte Clube, bem no comecinho da carreira. Ele atribuiu à má sorte não ter sido campeão pelo Galo, uma vez que fez parte de grandes elencos nos anos que jogou por lá. “Foi azar mesmo”, garantiu.

O ex-zagueiro elegeu como os melhores parceiros dentro de campo o companheiro de zaga Jaime e o volante Tadeu. “Esses dois jogavam muito, a gente se entendia só no olhar”, afirmou Pompeu. E no que diz respeito aos atacantes mais difíceis de marcar, ele citou Antônio da Loteca, do Juventus, e Gil, do Rio Branco. “Não podia haver descuido com esses dois”, disse.

No caso de uma seleção acreana, o ex-craque não teve dúvidas e escalou o seguinte time: Ilzomar; Cláudio, Pompeu, Jaime e Chiquinho; Gilmar, Tinda e Joãozinho; Manoelzinho, Valdir e Neivo. Melhor dirigente: Adauto Frota, porque “tinha palavra”. Melhor técnico; Gualter Craveiro, porque “sabia tudo”. Melhor árbitro: Ribamar, porque “apitava brincando”.

Trabalhando hoje como corretor de imóveis na sua amada Quinari, Pompeu ainda frequenta os estádios, de vez em quando. De acordo com ele, existe muito menino bom de bola por aí. Lembrou, porém, que para vencer no mundo do futebol não basta ter talento. “Tem que ter determinação, muito foco e, de jeito nenhum, gostar de beber ou fazer uso de drogas”, finalizou.