Escrevi a minha crônica de meio de semana na noite de segunda-feira. Eu não envio a crônica para publicação logo após concluí-la. Deixo passar algumas horas, ou um dia, antes de proceder ao envio. Deixo o texto hibernando. A ideia é me ausentar dele para poder observá-lo à distância.
Essa observação à distância serve para uma ou mais releituras. Única forma possível de detectar os erros que ocorrem quando se escreve um texto de “uma sentada”. Na falta de uma segunda pessoa para fazer a revisão, o próprio autor é que tem que fazê-la. Tarefa pra lá de complicada.
Na manhã de terça-feira, entretanto, o texto escrito na noite anterior precisou ser abandonado. Talvez jamais venha a ser publicado. O texto foi atropelado pela insurgência da morte. O acidente aéreo que vitimou o time da Chapecoense na Colômbia se impôs como o tema da hora. Tragédia!
Tragédia! Talvez não exista outra palavra que não seja essa para descrever um fato dessa natureza. O mundo se queda a um só tempo estupefato e pesaroso. De uma tacada só se perdeu uma geração de jogadores talentosos que fizeram história defendendo um clube regional.
É verdade que não foi a primeira vez que um acidente aéreo vitimou um time de futebol. Houve pelo menos outros dois acidentes dessa natureza de grandes proporções. Um, em 1949, matou 18 jogadores do time italiano do Torino. Depois teve outro, em 1958, com o inglês Manchester United.
Mas foi a primeira vez que um acidente se abateu sobre um time do futebol brasileiro. Não só jogadores, mas também jornalistas e dirigentes. Pessoas que nós víamos quase que diariamente pela televisão. Ídolos de uma região, de um Estado. Pessoas bastante próximas do nosso cotidiano.
Choramos hoje pela partida prematura dessa delegação. É como se toda uma cidade (Chapecó) e toda uma região (Oeste de Santa Catarina) se cobrisse com cascatas de sangue… Ou então, usando outra metáfora, evaporassem em pleno ar. Estavam aqui há pouco e agora já não existem.
Um detalhe não pode ficar sem o devido registro nesta crônica no que diz respeito a uma das vítimas. É que o médico acreano Márcio Bestene Koury estava a bordo do avião acidentado. Jovem e idealista, Márcio, filho da professora Nabiha, “amava de paixão” a sua profissão.
Por conta do inesperado, mudei o tema da crônica de hoje. Viver é correr riscos a cada passo e nunca saber o que nos aguarda no instante que virá. A próxima curva do caminho pode ser o ponto final. Que esses homens tão bruscamente arrebatados possam ser eternos na nossa memória!