Porco na cabeça

A Sociedade Esportiva Palmeiras, o famoso Verdão do Parque Antártica, é o mais novo campeão brasileiro de futebol. Fez uma campanha praticamente impecável. Tanto que conquistou o título com uma rodada de antecedência. Agora vai ficar um ano inteirinho no topo do pódio nacional.

Se fosse jogo do bicho, seria pertinente dizer que “deu porco na cabeça”. Porco é o animal símbolo do Palmeiras. Se eu não estou enganado, alguém chamou o Palmeiras de porco de forma depreciativa. Mas aí a torcida incorporou o epíteto e mandou bola pra frente. Pegou!

No futebol, assim como na vida, um apelido pega de duas maneiras: com a irritação ou com a absorção por parte do alvo. Se o sujeito se irritar, vai passar a vida sofrendo. A pressão vai subir e ele pode até morrer doido. Ao contrário, quando o sujeito relaxa e absorve, tudo o mais vira alegria.

Os torcedores do Palmeiras absorveram tanto o apelido que até usam máscara de porco nos jogos do seu time. E quando vencem uma competição, como aconteceu no domingo, 27 de novembro, pregam aos ventos que o chiqueiro está em festa. Chiqueiro grã-fino, jamais pocilga.

Eu tenho muitos amigos palmeirenses. Os caras estão em estado de graça. Sabem que muita gente do atual elenco vai embora quando virar o ano. Mas nem querem pensar nisso por enquanto. Depois de 22 anos na fila, o que conta é a comemoração, deixar o espírito fluir no espaço sideral.

O primeiro que vai arrumar a trouxa e “pegar o beco” é o técnico Cuca. Vai sair por cima. Comandou o time numa jornada épica e sabe que se ficar e, no futuro, começar a perder, todo mundo vai esquecer o sucesso atual. O futebol é assim. Não perdoa a história nem o triunfo do passado.

E para completar, também vai embora o “cracaço” Gabriel Jesus. Aos 19 anos, a mais nova revelação do futebol brasileiro vai se mudar para Londres. Vai com duas missões: fazer gols e descobrir a identidade de Jack, o estripador. Terá como parceiro de ataque Sherlock Holmes. Só isso!

Esse é um mal que toda a vida assolou o futebol brasileiro. Um time que é campeão não consegue, de jeito nenhum, segurar o elenco para o ano seguinte. A economia podre do país não permite que os salários se equiparem aos que são pagos na Europa, ou na Ásia, ou no Oriente Médio.

De qualquer forma, noves foras e pormenores à parte, o Palmeiras é o legítimo campeão brasileiro de 2016. Deu porco na cabeça e o amanhã a Deus pertence. O futebol é a soma de uma variedade imensa de relações concretas. Se todas as relações forem removidas não restará bola alguma!