Presentes de início de ano

Tradicionalmente, o período de férias, no final e no início de cada ano, serve também para o exercício da distribuição de brindes, lembrancinhas e presentes das mais variadas espécies. Provavelmente seja o tal espírito natalino que faz (quase) todo mundo embarcar nesse clima.

Mas eu tenho um amigo, o preparador físico e advogado Joraí Salim, que costuma desqualificar o espírito natalino. Como não acredita em Papai Noel, para ele essa história de dar presentes não passa do desejo de receber algo em troca. “Ninguém dá nada de graça, meu professor”, explica ele.

E, além disso, ainda no dizer do Joraí, “tem muito presente por aí que não vale o quanto pesa. Caso, por exemplo, falando de futebol, de determinadas contratações que são feitas pelos clubes só para enganar o torcedor. Craques só no papel, que jamais conseguirão dar retorno algum”.

De acordo com o referido jurisconsulto, desde que os gregos deram aquele cavalo de madeira oco, cheio de guerreiros armados, para os troianos, a gente só pode acreditar que um presente é mesmo pra valer depois de avaliá-lo e experimentá-lo por, no mínimo, uns bons seis meses.

Isso o Joraí me repetiu durante muito tempo, quando nós dois trabalhávamos no mesmo lugar e gastávamos longos minutos de conversas todos os dias. Eu costumava dizer que não era bem assim. Mas ele sempre tinha melhores argumentos, dado sua experiência maior do que a minha.

Essa tese do Joraí me veio à cabeça por conta das notícias dos últimos dias envolvendo o mercado da bola brasileiro. Pra todo lado que a gente se vira, nos mais diversos canais, folhas impressas, ondas de rádio ou sites da internet, o que se vê é a totalidade dos clubes falando em reforços.

Os reforços configuram-se, exatamente, nos “presentes” que os clubes supostamente costumam dar aos seus torcedores no fim de um ano e início de outro. A questão, e aí entra a palavra abalizada do Joraí, é que nem todos os “reforços” se configuram como tal quando a deusa bola rola.

Pra falar a verdade, nos pacotes de “reforços” de fim/início de ano vem mais neguinho enganador do que, propriamente, de alguma extremada valia. Tem promessa que jamais se cumpre. E tem veterano que volta do exterior só para tentar ganhar mais um trocadinho no ocaso de carreira.

O Joraí é um cético. Mais ou menos como aquele frio apocalíptico que costuma preceder o silêncio profundo de um ato de sacrifício. Então, o certo é a gente não se empolgar muito com os “reforços” anunciados para o nosso time antes de ver se eles vão dar o retorno esperado dentro do campo.