Primeira dose

Tomei a primeira dose da vacina. A picada da agulha não doeu nada. Nem parece que furou a pele do meu braço. Em princípio, fiquei até em dúvida se a moça havia aplicado mesmo a dose da Coronavac. Mas depois, vendo as imagens feitas pela esposa Maria, constatei que foi tudo certo sim.

Tenho consciência de que ainda não estou imune e que preciso continuar exercitando a prática do uso da máscara e da higienização das mãos. Afinal, o vírus é invisível e pode estar em qualquer lugar. Mas, é certo que a gente fica com uma sensação de mais tranquilidade depois da vacina.

Como não existe nada assim tão absoluto, tipo altura do céu ou profundeza da terra, e pra não dizer que eu não sou chegado a discursar sobre flores, por via das dúvidas, todos os dias ao acordar dou uma olhada pra trás pra ver se não estou desenvolvendo um rabo de jacaré. Só por cautela mesmo.

Até agora tudo certo. Quer dizer, nada de rabo ou couro de jacaré. Inclusive porque se fosse o caso de virar jacaré, surgiria outra complicação: onde conseguir moradia. No prédio no qual eu moro, não toleram animais selvagens. E mudar para o Pantanal, com aquelas queimadas, nem pensar.

Essa história de queimadas e devastação das áreas verdes do Brasil, aliás, se a gente pensar bem, acaba expondo o quanto o nosso país é ridículo. Os carinhas vão pra reunião dos líderes mundiais e afirmam que irão diminuir a emissão de poluentes ambientais, mas fazem tudo ao contrário.

Aí, com esse distanciamento entre a palavra e a prática cotidiana, eu não posso deixar de lembrar aquela frase que diz ser “tudo pra inglês ver”. Não sei a origem dessa frase. Não sei a origem e estou com preguiça de pesquisar. Mas sei que o sentido é o de que as palavras não traduzem os fatos.

Por essas coisas é que a credibilidade do Brasil anda mais por baixo do que barriga de “jacaré” (perdão, leitor, fui traído pelo subconsciente!) no cenário internacional. Se toda a vida fomos tidos como um país sem muita seriedade (vide o pensamento de Charles de Gaulle), agora então, danou-se.

Pra falar a verdade, se a gente for analisar a história dessa terra brasilis vai chegar à conclusão de que a mentira e a malandragem sempre estiveram caminhando de mãos dadas com o povo daqui. Qualquer desqualificado é candidato (e ganha) a qualquer cargo. Então, parece estar tudo bem normal.

A truculência e o desvio comportamental nunca estiveram tão em alta por aqui. Quando Pelé disse que brasileiro não sabia votar, quase tiraram o escalpo do negão. E eu vou ficando por aqui, esperando a segunda dose da vacina. Enquanto isso, o meu espaço acabou e eu não falei nada de futebol!