Reportagem publicada no jornal O Estado de S. Paulo no início desta semana chama a atenção para a escassez de centroavantes no país do futebol. E usa como ilustração as figuras de um jogador do passado e outro do presente: Careca (ex-São Paulo e outros) e Henrique Dourado (Flamengo).
A comparação entre os diversos tempos é, de fato, desoladora. É que além de Careca, que aliava uma técnica apurada a uma rara eficiência, pode-se contabilizar uma infinidade de homens-gol que deslumbraram o mundo. Cito alguns que lembro enquanto escrevo: Romário, Reinaldo, Ronaldo…
Só esses três nomes já daria para que se escrevessem tratados de inúmeras páginas sobre a arte de se mexer entre os múltiplos zagueiros carniceiros de todos os campos da Terra. A arte de se mexer, fugir dos sarrafos e descobrir exíguos espaços para mandar bolas às redes adversárias.
Romário, hoje senador dedicado à luta contra a corrupção dos altos escalões do futebol brasileiro, deslumbrou arquibancadas planetárias. Foi considerado um gênio das áreas (a pequena e a grande). Antevia o lance, jogava com e sem bola… O ponto futuro para ele era um GPS na memória!
Reinaldo, hoje técnico de futebol de times sem muita expressão, brilhou com a camisa do Atlético Mineiro, no final da década de 1970. Até hoje é o maior artilheiro da história da referida equipe. Chegou a frequentar a seleção brasileira. Parou aos 28 anos, vítima da pancadaria dos marcadores.
Enquanto que o Ronaldo, eleito três vezes o melhor jogador do mundo (1996, 1997 e 2002), denominado “Fenômeno” pela imprensa italiana, esse ainda está bem vivo na memória dos torcedores. Tão importante o Ronaldo que virou embaixador de um monte de entidades depois de parar de jogar.
E fora esses três, todos cujos nomes, coincidentemente, começam com a letra “R”, ainda teve uma porção de centroavantes de excepcional qualidade nascidos no Brasil. Casos, novamente lembro enquanto escrevo, de Roberto Dinamite, Leônidas da Silva, Coutinho, Vavá, Tostão… Enfim…
Na atualidade, fora o Gabriel Jesus, que presta seus serviços ao futebol inglês, praticamente não existem nomes assim tão acima de qualquer suspeita. Jogando no Brasil, então, a escassez é tamanha que um sujeito de bola apenas mediana, como o Henrique Dourado, ganha ares de exceção.
Por quais motivos, num futebol que sempre primou pela busca obsessiva do gol, não surgem mais centroavantes em profusão? Talvez não exista uma única resposta possível. Provavelmente sejam diversos os fatores que concorrem para esse resultado. Talvez a bola precise ser reinventada!