Minha principal observação sobre essa Copa do Mundo que ora está a se encerrar nos campos da Rússia é a de que o futebol é um desmoralizador de profetas. Com tantas seleções favoritas que se deram mal, penso que o máximo que um profetado futebol pode chegar é ao nível de “chutador”.
Também ficou mais do que provado com o andamento da competição que não adianta nada meter no meio das previsões algum tipo inteligência cibernética. Computadores de última geração foram alimentados com os mais diversos dados e nenhum chegou a qualquer resultado satisfatório.
Antes de a bola rolar na pátria de Lênin, Trotsky e Stalin, magos alquimistas e assemelhados de toda a espécie garantiram que a Alemanha, a Espanha, a Argentina e o Brasil estariam entre os finalistas. A França aparecia em segundo plano. E a Croácia, essa deveria ficar só na ameaça.
A Alemanha, como se viu, sequer passou da primeira fase. Sua propalada eficiência para mandar a bola para as redes, sua famosa frieza para superar momentos adversos, seu elogiado planejamento a longo prazo, tudo isso ruiu ante o dedo de um deus impiedoso com chucrutes vaidosos.
A Espanha, como também se viu, com o futebol-relógio que a tornou campeã nos gramados da África do Sul, desafinou a castanhola. Foi toureada como o fazem nas suas arenas de sangue. Os adversários aprenderam a deixa-la tocar a bola para os lados. Agora só esperam o momento de golpeá-la.
A Argentina, coitada, mesmo havendo sobrevivido até às oitavas-de-final, em nenhum momento deu a entender que poderia permanecer com chances no torneio planetário. Em nenhum dos seus jogos demonstrou o menor sentido de equipe. A Argentina é um time de razoáveis peladeiros.
Do Brasil eu não quero dizer nada. Me acho suspeito para dizer algum coisa. Mas creio que a nossa seleção merecia algo melhor. Embora, de modo geral, a equipe brasileira só tenha jogado um tempo por partida, com alguma sorte poderia ter ido à final. Pra mim, a culpa foi do cara dos Rolling Stones.
Aliás, essa desmoralização de profetas do futebol vem de longe, desde a primeira vez em que dois bandos resolveram bater-se pela glória de ganhar uma taça qualquer. A única exceção que me ocorre de profeta que acertava todas foi um polvo alemão, na Copa de 2010. Mas esse já virou fumaça.
Por fim, pra não dizer que não falei das flores, devo confessar que eu me incluo na categoria dos profetas desmoralizados pela bola. De verdade mesmo, eu tenho uma absurda facilidade para torcer pelo perdedor. E dificilmente acerto alguma previsão. Na outra vida eu quero nascer polvo!