A prorrogação dos trabalhos da CPI do Futebol será positivo para o seu presidente, o senador Romário.
Comissões desse tipo costumam ser palanque eleitoral aos seus principais protagonistas. Com adiamento do fim dos trabalhos, Romário, pré-candidato à prefeitura do Rio, se mantém sob os holofotes até pelo menos junho de 2016 – a previsão inicial era de a CPI se encerrar em dezembro.
A justificativa da prorrogação recai sobre a documentação recebida pela comissão por órgãos competentes. O material, segundo o colegiado, exige ainda minucioso levantamento – ele inclui contratos de direitos de transmissão de campeonatos e de organização de partidas da seleção brasileira.
A CPI criada por Romário se propõe a investigar a CBF e seus negócios.
Porém, a comissão sofre com o seu esvaziamento. Alguns deputados alegam que Romário tem conduzido a pauta sem consultor seus pares – entre eles inclui-se Romero Jucá, relator da CPI. Em outra vertente, Romário tem insinuado haver lobby da CBF para minar os trabalhos da comissão.
Na dúvida, Marco Polo Del Nero, presidente da confederação, entrou com pedido de habeas corpus no STF para, em caso de comparecimento à CPI, se manter calado e impedido de ser preso. Ele já teve seus dados bancários e fiscais quebrados pela CPI.
Há ainda vários outros requerimentos de quebra de sigilo para serem votados, envolvendo dirigentes e intermediários da CBF.
Os de intermediários são os que mais chamam a atenção. Especificamente o de Wagner Abrahão, responsável pela operadora de turismo usada pela entidade, para aquisição de passagens e reservas de hotéis, e de Kléber Leite.
Este último, por meio de sua empresa, a Klefer, foi parceiro de J. Hawilla, réu confesso no caso FIFA investigado pelo FBI. A empresa de Hawilla, a Traffic, e a Klefer mantinham contratos milionários de marketing esportivo no Brasil e em outros países da América Latina.
Na intermediação de ambos (Klefer e Traffic) entre entidades do futebol, empresas e emissoras de TV está os dois objetos de investigação do FBI: os direitos de transmissão de futebol e os acordos de patrocínio. Nos dois casos, a corrupção rolou solta por anos.
Apesar do forte lobby da bancada da bola, a CPI de Romário deve expor a CBF de tal maneira, que seu presidente pode acabar optando em renunciar – o enfraquecimento diário de Del Nero é visível.
Já sobre a incriminação de patrocinadores, com a exposição negativa na CPI, é mais provável se afastarem do patrocínio do futebol do que serem punidos.
Por fim, sobre as TVs (leia-se Globo) que firmaram contratos suspeitos com o mundo do futebol, a comissão deve manter cautela. Embora se note desgaste da Globo com o assunto, parlamentares do Senado não devem se indispor com a emissora.
Os motivos são os de sempre: alguns são proprietários de veículos de comunicação e até de afiliadas da Globo; outros temem perder espaço na emissora, principalmente em ano eleitoral – Romário deve se incluir no segundo grupo, caso mantenha o passo de incriminar apenas a CBF, seu alvo principal de críticas desde que entrou para a política.