É impressionante como o futebol é capaz de mexer com multidões. A dimensão fica clara até quando o esporte se apresenta numa posição muito desfavorável, como aconteceu dias atrás com a queda do avião que transportava o Chapecoense à final da Copa Sul-Americana.
Imagina-se sempre o envolvimento de milhares, quando se trata do futebol em seu lado prazeroso, do ambiente apaixonado e típico das competições de alto nível.
A tragédia, porém, é algo nunca esperado e desejado. Muito menos em lugares festivos e animados, como as arquibancadas dos estádios. Ninguém sai de casa imaginando no pior extremo, ainda que o seu time possa sair derrotado em uma partida, por vezes de forma vexaminosa – e que talvez o leve a ser rebaixado.
Isso é pouco, mas muito pouco mesmo diante de um acidente em que um time inteiro morre de forma abrupta e violenta. Nesse caso, os sentimentos passam a serem expostos de maneira conjunta e única, envolvendo torcedores e jogadores de vários clubes, estirpes, grandezas e conquistas, muito além de nossas fronteiras.
Na verdade, é mais uma simbologia do futebol: a perda de pares do meio de maneira trágica e extensiva, ainda que rivais, coloca a dor mais próxima de jogadores e torcedores, seja de onde for – como estamos vendo agora diante da tragédia com o a equipe catarinense. Ambos (jogadores e torcedores) compõem o espetáculo do futebol e expõem em caráter excepcional um sentimento de dor único.
A reação de atletas de dimensão planetária em torno da tragédia que vitimou a equipe do Chapecoense é bastante significativa. O mesmo se diz da manifestação apresentada pelos seus clubes, seja fora ou dentro de campo.
E também de torcedores do Brasil e de países distantes daqui, mas ligados ao futebol. O respeito empreendido na Colômbia, local do acidente e da partida para onde a equipe do Chapecoense se dirigia, é algo da mais alta respeitabilidade.
Esse caso é transcendente e intrigante. Existe uma analogia ao futebol muito além do que conhecemos, daquela relacionada à desmedida predileção incontrolável pelos clubes e seus atletas. Há algo também de solidário, comum a todos, quando toca o sentimento maior de tristeza, que é a perda, ligado ao futebol e seus protagonistas.
São tratos e reflexões importantes, apesar da tragédia, para entender esse universo e o quanto o esporte ainda pode ser instrumento de pacificação e luta por melhores dias.