Questão de vocação

Para quase tudo que se faz na vida é preciso, além de muito suor, ter uma dose enorme de vocação. Sem vocação, e só com suor, o sujeito pode até se dar bem no que faz, mas, provavelmente, vai exercer o seu ofício de maneira, digamos, mais próxima da mediocridade do que da excelência.

Fora tudo isso (vocação e suor), algumas profissões (ocupações) são tão exageradamente difíceis que se a pessoa que a exerce não tiver muita determinação, não vai chegar a lugar algum. No primeiro obstáculo vai sair correndo, pedindo aos berros o colo da mãe ou uma caverna pra se esconder.

Essas divagações me ocorrem por conta de uma conversa que eu tive uns dias atrás com o ex-árbitro de futebol Ronne Casas. Ele passou 19 anos da sua vida mediando confrontos entre times desse esporte e, evidentemente, administrando emoções/paixões de todas as cores e respectivas intensidades.

Nessas de administrar tensões, por exemplo, o Ronne me contou que um dia ele quase foi às vias de fato com um boliviano, num amistoso entre um time do país da referida criatura e o Rio Branco. Jogo sem pretensões, sem valer quase nada, mas que nenhuma das equipes admitia ser derrotada.

Lá pelas tantas, segundo o Ronne, na marcação de um impedimento contra o time visitante, um atacante lá da turma dos “colhas”, sujeito que já vinha reclamando o tempo todo das decisões da arbitragem, se meteu a besta e correu pra cima dele. A agressão era iminente. E o Ronne se defendeu.

Foi sopapo pra todo lado até que os outros jogadores conseguissem apartar os contendores. Aí, sem outra alternativa, o Ronne mandou o mau caráter para o chuveiro. Mas não apenas isso: o caboclo bebedor de chicha e comedor de empanada além de expulso deveria ir do campo para o xilindró.

O Ronne até chamou o tenente Farias, da Polícia Militar, para jogar o agressor na “manduquinha” (antiga denominação do carro que transportava presos no Acre), mas isso ia dar um conflito internacional. Foi preciso muita conversa pra fazer o Ronne desistir de mandar o vagabundo para a “Penal”.

E além dessa tensão dentro do campo, ainda tem uma variedade de situações escusas fora dele. No caso do Ronne, ele me contou que sofreu uma tentativa de suborno, por parte de um árbitro de outro estado. Mas dessa ele se saiu gravando a conversa e entregando tudo para as autoridades.

Sem falar, mas já falando, de todos os palavrões proferidos pelos torcedores nas arquibancadas. Qualquer decisão de um árbitro, agrada a uns e desagrada a outros. Às vezes desagrada a todo mundo. E tome vaias e xingamentos. É por isso que eu digo: só mesmo muita vocação… Ou doidice!