Rádio sustenta o futebol não ao contrário

Os direitos de televisão ganharam tanta importância no bolso dos clubes que passaram a tratar outras mídias com certo desdém. E se não forem veículos ligados aos grandes grupos de comunicação, pior ainda.

Mas o que seria o futebol sem os jornais, portais e rádios? Somente a televisão seria suficiente para mobilizar torcedores em torno de um jogo? E como os clubes promoveriam suas ações, principalmente àquelas que lhe trazem recursos?

No Brasil sabe-se que a televisão cobre mal e porcamente o dia a dia dos clubes brasileiros, se limitando a mostrar jogos e algo após, além de conversa de palpiteiro e muito pouca informação.

Esse papel de aprofundamento muitas vezes é feito por outras mídias. São elas que têm enorme importância em mostrar muitas vezes aquilo que os clubes até tentam levar à TV, mas não conseguem.

O cenário é mais dramático na medida em que vamos nos afastando da elite do futebol brasileiro, indo para séries B, C e D, até a Copa São Paulo de Futebol Juniores. Nesse ambiente, quem passa a ter papel preponderante é o rádio, o velho rádio.

É a mídia radiofônica que transmite os jogos que a televisão ignora. É ela que cobre o antes e o depois.

Não importa se o clube é de São Paulo ou do interior da Bahia. O clube só tem oportunidade de aparecer por que o rádio ali se fez presente. E ainda se faz muito presente.

Num país com cerca de 3 mil emissoras, são elas as únicas capazes de dar cobertura plena do futebol brasileiro, ainda com todas as dificuldades financeiras e de logística.

Num país onde somente cerca de 10 clubes têm na televisão a devida atenção de suas atividades, mais uns 30 que até cobrem, mas de forma precária, e centenas e centenas de outros que só não caem no esquecimento por causa do rádio, não é complicado chegar à conclusão que não é o futebol que sustenta as emissoras, mas ao contrário.

Pode-se dizer que a emissora sobrevive com anúncios para transmitir o futebol. No entanto, o futebol só existe nos rincões por que sabe que tem o rádio para promovê-lo.

Num país pobre como o nosso, pensar no rádio como fonte de recursos por meio de arrecadação de direitos de transmissão radiofônica parece descabido. Vai ser ruim mais para o futebol do que para o rádio.

O futebol encontrará dificuldades extremas sem ele para falar com seu torcedor. Já o rádio poderá aumentar a sua programação musical para que gravadoras, produtoras e artistas continuem pagando para execução de suas músicas; ou ainda alugar para congregações religiosas e outras pregações.

O futebol é quem mais perde nesse jogo.