Um dia desses, um acadêmico de jornalismo me entrevistou via internet. O tema principal das perguntas dele era o futebol acreano. Fui dando as respostas. Mas lá pelas tantas uma questão descambou para a metafísica. Ele queria saber sobre os meus motivos para o ofício da escrita.
Aí a coisa pegou para o meu lado. De verdade mesmo, eu jamais havia parado para pensar nisso. Os textos simplesmente vão saindo. Vão saindo porque precisam sair. Independentemente de algum tipo de valor literário ou de agradar uma quantidade significativa de leitores, devem sair.
Esse raciocínio, porém, da necessidade pura de produzir os textos, não tinha muita validade como resposta para a indagação do estudante. Eu deveria encontrar alguma coisa mais plausível, um raciocínio mais elaborado. E aí fui tateando num labirinto negro em busca de uma resposta.
Como se num processo de viagem exploratória para dentro de mim mesmo, numa espécie de mergulho rumo ao eterno infinito, acabei respondendo que eu não tinha uma razão única para justificar o processo da escrita. Uma única razão se configuraria numa simplificação injustificável.
E então, eu disse ao entrevistador que as minhas razões para escrever partem de premissas as mais variadas. Razões que vão desde a perplexidade diante do mistério que é transformar abstrações em matéria até à pretensão de obter uma sobrevida para a finitude da substância física.
Essas seriam as primeiras razões: necessidade, perplexidade e sobrevida. Mas, como uma razão puxa outra, depois que formulei a minha resposta ao estudante me ocorreram outras. Caso do amor pela palavra que se funde num desejo incontrolável de manipulá-la sem conceitos ou pudor.
Se não se pode escrever a palavra que nunca foi dita, pelo menos se pode encadeá-la com outra e mais outra e formar uma ideia nova a partir do que já existe. A possibilidade de combinações não tem limites. E, sendo assim, sempre se pode dizer a mesma coisa de um jeito que ninguém disse.
E depois também que eu já havia enviado a minha resposta ao meu entrevistador, me ocorreu que as razões para escrever também mudam (ou se adaptam) todos os dias. Amanhã pode ser para evitar a explosão do autor, livrá-lo das angústias existenciais, fazer terapia, melhorar o mundo…
Se o tema da escrita for futebol, então, aí a coisa fica ainda melhor, por se tratar de paixão. Sim, eu sei que muitos não gostam do tema. Muitos sequer suportam ler. Acham perda de tempo. Preferem consumir as imagens no celular. Todos têm suas razões. As minhas só valem pra mim!