Remédio milagroso

Um dia desses, quando da passagem para outra dimensão do grande massagista Jacinto Ferreira da Silva, eu teci alguns comentários aqui neste mesmo espaço sobre o quanto este personagem era competente para recuperar em tempo recorde jogadores de futebol gravemente contundidos.

Os depoimentos nesse sentido são inúmeros. Os caras se contundiam num domingo (distensões musculares ou pancadas) e o primeiro diagnóstico era o de que passariam uns dois meses “no estaleiro”. Aí o Jacinto entrava em ação e os contundidos voltavam a campo no fim de semana seguinte.

Não se tratava de coincidência, muito menos de algum anestésico de última hora aplicado (ou passado) no local da contusão, para mascarar a dor dos craques. Não, nada disso. O Jacinto curava os caras de verdade mesmo. No espaço de sete dias, parecia que nem havia acontecido coisa alguma.

Mas tudo isso que eu disse aí atrás só vale para contusões. Se a situação fosse outra, o Jacinto tinha sim os seus “truques” e não os revelava pra ninguém. Um desses “truques”, só descoberto anos depois da prática, ele o fazia com os atletas que chegavam bêbados ou de ressaca na concentração.

Foi o caso, de acordo com o relato do ex-atacante Lula, do Independência, na segunda metade da década de 1970, do dia em que o lendário ponteiro-direito Bico-Bico, cracaço que odiava ver uma garrafa de cachaça cheia, se apresentou para um jogo com a cabeça cheia do “mé”.

O Lula, que fora contratado a peso de ouro e jogava na mesma posição do Bico-Bico, já estava escalado como titular naquele dia. Estava escalado, devidamente massageado e uniformizado com a camisa número sete, dando vários piques sem sair do lugar, para ir soltando a musculatura.

Segundo a narrativa do Lula, quando o Bico-Bico chegou “paulado” de cachaça, o técnico Walter Félix de Souza, vendo que o seu atleta não tinha a menor condição de entrar em campo daquele jeito, acionou o massagista dizendo: “Jacinto, cuida disso. Dá um banho daqueles aí no Bico-Bico”.

Pensamento do Lula no momento da ordem disparada pelo Té: “Esse aí [o Bico-Bico], do jeito que ele está, cambaleando e cantando músicas de carnaval sem qualquer coordenação, não joga hoje nem com quinhentos banhos, seja desses ou daqueles. Essa camisa sete hoje ninguém me toma.”

Meia hora depois o Bico-Bico estava “zerado” e o Lula teve que entregar a camisa ao novo titular. O Lula não acreditava no que estava vendo. Como é que um banho podia recuperar um cara daquele jeito? Só anos depois o Lula descobriu que o banho incluía uma injeção de Glucoenergan.