Eu mesmo não assisti. Mas li por aí pelos sites que o ex-goleiro Jefferson, que marcou época no Botafogo e que pendurou as chuteiras no ano passado, declarou numa entrevista na televisão que ele teria sido deixado de fora da convocação para o Mundial Sub-20, em 2003, por ser negro.
De acordo com as declarações do ex-jogador, reproduzida nas páginas da internet, um dirigente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) é que teria vetado a convocação dele, por conta da cor da sua pele. Isso foi o que lhe disseram. Pena que o informante não quis declinar o nome do racista.
Pra sorte do Jefferson, o Mundial daquele ano, marcado para os Emirados Árabes Unidos, foi adiado de junho para dezembro. E nesse ínterim, o dirigente criminoso saiu da CBF. Com o sujeito fora do caminho, o goleiro foi convocado, virou titular, e sagrou-se campeão do mundo.
No meu entendimento, o mais estarrecedor nem é o ato preconceituoso, que o Brasil, apesar da legislação, tão cedo não deixará de exibir esse perfil nefasto. Pra mim, o mais estarrecedor é a forma como esse preconceito se manifestou, de maneira camuflada, furtiva, dissimulada…
Quando o preconceito é escancarado, o sujeito agredido tem a oportunidade de tomar as suas providências, seja de algum jeito mais brusco, seja acionando os canais legais. Mas quando é camuflado, o ofendido sente os efeitos do ato e não pode fazer nada. Às vezes, nem fica sabendo.
Sem a ação visível, fica impossível a reação. E assim, tudo continua como sempre foi. O inimigo oculto pode frequentar os mesmos lugares que a vítima da agressão. No caso do futebol, o preconceituoso pode até dar tapinhas nas costas e elogiar o discriminado, mas tudo só de “migué”.
E aí, passando de um ponto ao outro, mas sem sair do lugar (vá entender…), eu fiquei pensando em como o futebol brasileiro seria mais pobre (talvez jamais tivesse conquistado alguma coisa) se não tivesse contado com a presença de negros maravilhosos, mágicos no trato da bola.
Nesse aspecto, basta citar um desses negros: Pelé, o gênio que levou a seleção brasileira ao pódio em três Copas do Mundo, marcou mais de mil gols, foi coroado rei na França e fez os norte-americanos compreenderem que a emoção não precisa ser construída apenas com uma bola nas mãos.
Pelé, aliás, na metade da década de 1960, foi capaz inclusive de acabar com o preconceito no futebol de um país europeu. O país foi a Itália, cujos times ofereceram rios de dinheiro para ele jogar lá. O negão jamais aceitou. Não aceitou, mas abriu caminhos para vários outros “crioulos”. Reticências!