Roberto Ferraz, aos 58 anos. Foto/Francisco Dandão.

Roberto Ferraz

O primeiro time do xapuriense Roberto Ferraz, aos 14 anos, foi a de um time infantil formado pelo então árbitro de futebol Adônidas Feitosa. Os meninos do Time do Barbadinho (apelido do referido árbitro), naqueles meados da década de 1970, faziam e aconteciam nos mais diversos campos de futebol dos bairros de Rio Branco. Dificilmente perdiam uma partida!

Time do Barbadinho – 1975. Em pé, da esquerda para a direita: Júlio César, Otto Júnior, Claudio Bolota, Macaco e Raima. Agachados: Guto, Derzinha, Zé Antônio, Brizola e Roberto Ferraz. Foto/Acervo Roberto Ferraz

Em 1978, quando Roberto já estava com 17 anos (ele nasceu no dia 28 de fevereiro de 1961), surgiu a oportunidade de participar de uma peneira no Internacional, time do bairro do Ipase. Duas “crias” do Time do Barbadinho se candidataram a vagas no Internacional: Brizola e Roberto Ferraz. Ambos foram aprovados e passaram a defender o time do então Sargento Deca.

Tanto Brizola quanto Roberto Ferraz ficaram alternando jogos nos times juvenil e principal do Saci do Ipase. E jogaram tão bem (Roberto foi considerado a revelação do ano do campeonato acreano) que despertaram o interesse de outros clubes. No ano seguinte, o Internacional ficou pequeno para os dois. Brizola foi para o Juventus e Roberto foi para o Rio Branco.

“Eu também deveria ter ido para o Juventus. Já estava tudo certo. Só não fui por causa do carnaval daquele ano [1979]. É que tinha um baile no Rio Branco e eu queria entrar, junto com mais 10 colegas. Só que ninguém era sócio ou tinha convite. Aí o doutor Alencar botou todos nós pra dentro. No outro dia, ele mandou me contratar para o Estrelão”, disse Roberto.

Rio Branco – 1980. Em pé, da esquerda para a direita: Tião, Cleiber, Mário Sales, Zé Gilberto, Zezito e Chicão. Agachados: Eli, Dadão, Valdir, Mário Vieira e Roberto Ferraz. Foto/Reprodução Idalécio Cruz.

Oito anos e muitos títulos no Estrelão

Os dirigentes Edmir Gadelha e José Macedo é que foram à casa do Roberto, depois do carnaval de 1979, para contratá-lo. A proposta era irrecusável: um dinheiro na mão, mais um valor por mês e um emprego na agência da Viação Aérea São Paulo (Vasp), cujo diretor geral era ninguém menos do que o próprio Sebastião Alencar, presidente do Rio Branco.

Amistoso Rio Branco (AC) 0 x 1 Vasco da Gama (RJ), em 1982. Da esquerda para a direita: Genilson, Marquinho Amor, Cláudio Adão, Hulk e Roberto Ferraz. Foto/Acervo Roberto Ferraz.
Rio Branco – 1983. Em pé, da esquerda para a direita: Chicão, Ilzomar, Neórico, Mário Sales, Paulo Roberto e Eco. Agachados: Roberto Ferraz, Gil, Mariceudo, Carioca e Julinho. Foto/Acervo Francisco Dandão.

“A concorrência no ataque do Estrelão era pesada. Os titulares absolutos eram o Eli, o Irineu e o Nino. Tudo cobra criada. Era duro barrar esses caras. E ainda tinha um monte de menino bom de bola pedindo passagem. Entre eles, além de mim, tinha o Eco, o Carioca e o Paulo Roberto, todos que depois se firmaram no time principal”, explicou Roberto Ferraz.

Apesar da concorrência dura, Roberto e todos os meninos que ele citou foram conseguindo a sua vaguinha entre os titulares. E logo no primeiro ano ele conquistou dois títulos expressivos: o Campeonato Acreano e o Copão da Amazônia (competição que reunia times do Acre, Rondônia, Amapá e Roraima). Não poderia haver melhor estreia para o jovem ponteiro direito.

Rio Branco – 1985. Em pé, da esquerda para a direita: Oton, Ilzomar, Kiko, Delcir, Zenon e Chicão. Agachados: Roberto Ferraz, Mauricinho, Manoelzinho, Paulo Henrique e Robertinho. Foto/Acervo Francisco Dandão.

Roberto ficou no Rio Branco até 1986. Tempo para ser campeão acreano mais duas vezes (1983 e 1986) e outra vez do Copão da Amazônia (1984). Em 1987 largou o Estrelão, chateado com a decisão do clube de dispensar o técnico Coca-Cola. Foi para o Juventus, masjogou pouco.Parou com a bola depois machucar o joelho num jogo contra o Independência.

Jogos inesquecíveis

Dois jogos constam na relação dos inesquecíveis na memória do ex-craque Roberto Ferraz. O primeiro, na estreia dele no Copão da Amazônia, em 1979, em Porto velho, contra o Ferroviário. O segundo, jogando pela Seleção Acreana de Juniores contra a Seleção Brasileira da mesma categoria, em Rio Branco, no mesmo ano de 1979, no Estádio José de Melo (Acre).

Seleção Acreana de Juniores – 1979. Em pé, da esquerda para a direita: Aníbal Tinoco (técnico), Normando, Tonho, Maurílio, Klowsbey, Gerson, Lécio, Cleber, Jaime, Marquito e Ronivon Santiago (preparador físico). Agachados: Edilson, Medeirinho, Neto, Litro, Paulinho, Roberto Ferraz e Carioca. Foto/Acervo Francisco Dandão.

“O jogo contra o Ferroviário me marcou pela violência de um lateralzinho chamado Raul Gil. O cara me deu um murro no primeiro lance e ainda disse que ia ter mais. Fiquei com medo e passei a jogar longe do sujeito. Quem resolveu a situação foi o nosso centroavante Irineu. Ele trocou de lugar comigo e deu um jeito de tirar o Raul Gil do jogo”, garantiu Roberto.

“Já o jogo contra a seleção brasileira, esse me marcou positivamente. Eles estavam se preparando para disputar um campeonato mundial. Só jogador de nome. Só craque. Aí nós encaramos as feras e ganhamos por um a zero, gol de pênalti do lateral-direito Sérgio Lopes. O nosso time jogou como nunca, por música. Saímos de campo orgulhosos”, falou Roberto.

Seleção Acreana de Juniores – 1981. Em pé, da esquerda para a direita: Maurílio, Tonho, Gilmar, Normando, Jaime e Marquito. Agachados: Neivo, Pingoncinha, Adriano, Leco e Roberto Ferraz. Foto/Acervo FFAC.

Para finalizar, Robertoescalou a sua seleção acreana de todos os tempos: “Ilzomar; Mauro, Neórico, Cleiber e Tonho; Emílson, Mariceudo e Carlinhos Bonamigo; Paulinho Rosas, Gil e Neivo”. E não escondeu também a sua opinião sobre o melhor dirigente com quem trabalhou, citando Sebastião Alencar. “Ele era sério e tinha visão de futuro”, disse Ferraz.

(Texto originalmente publicado em Futebol Acreano em Revista – Edição nº 9 – Dezembro de 2019)