O primeiro time do xapuriense Roberto Ferraz, aos 14 anos, foi a de um time infantil formado pelo então árbitro de futebol Adônidas Feitosa. Os meninos do Time do Barbadinho (apelido do referido árbitro), naqueles meados da década de 1970, faziam e aconteciam nos mais diversos campos de futebol dos bairros de Rio Branco. Dificilmente perdiam uma partida!
Em 1978, quando Roberto já estava com 17 anos (ele nasceu no dia 28 de fevereiro de 1961), surgiu a oportunidade de participar de uma peneira no Internacional, time do bairro do Ipase. Duas “crias” do Time do Barbadinho se candidataram a vagas no Internacional: Brizola e Roberto Ferraz. Ambos foram aprovados e passaram a defender o time do então Sargento Deca.
Tanto Brizola quanto Roberto Ferraz ficaram alternando jogos nos times juvenil e principal do Saci do Ipase. E jogaram tão bem (Roberto foi considerado a revelação do ano do campeonato acreano) que despertaram o interesse de outros clubes. No ano seguinte, o Internacional ficou pequeno para os dois. Brizola foi para o Juventus e Roberto foi para o Rio Branco.
“Eu também deveria ter ido para o Juventus. Já estava tudo certo. Só não fui por causa do carnaval daquele ano [1979]. É que tinha um baile no Rio Branco e eu queria entrar, junto com mais 10 colegas. Só que ninguém era sócio ou tinha convite. Aí o doutor Alencar botou todos nós pra dentro. No outro dia, ele mandou me contratar para o Estrelão”, disse Roberto.
Oito anos e muitos títulos no Estrelão
Os dirigentes Edmir Gadelha e José Macedo é que foram à casa do Roberto, depois do carnaval de 1979, para contratá-lo. A proposta era irrecusável: um dinheiro na mão, mais um valor por mês e um emprego na agência da Viação Aérea São Paulo (Vasp), cujo diretor geral era ninguém menos do que o próprio Sebastião Alencar, presidente do Rio Branco.
“A concorrência no ataque do Estrelão era pesada. Os titulares absolutos eram o Eli, o Irineu e o Nino. Tudo cobra criada. Era duro barrar esses caras. E ainda tinha um monte de menino bom de bola pedindo passagem. Entre eles, além de mim, tinha o Eco, o Carioca e o Paulo Roberto, todos que depois se firmaram no time principal”, explicou Roberto Ferraz.
Apesar da concorrência dura, Roberto e todos os meninos que ele citou foram conseguindo a sua vaguinha entre os titulares. E logo no primeiro ano ele conquistou dois títulos expressivos: o Campeonato Acreano e o Copão da Amazônia (competição que reunia times do Acre, Rondônia, Amapá e Roraima). Não poderia haver melhor estreia para o jovem ponteiro direito.
Roberto ficou no Rio Branco até 1986. Tempo para ser campeão acreano mais duas vezes (1983 e 1986) e outra vez do Copão da Amazônia (1984). Em 1987 largou o Estrelão, chateado com a decisão do clube de dispensar o técnico Coca-Cola. Foi para o Juventus, masjogou pouco.Parou com a bola depois machucar o joelho num jogo contra o Independência.
Jogos inesquecíveis
Dois jogos constam na relação dos inesquecíveis na memória do ex-craque Roberto Ferraz. O primeiro, na estreia dele no Copão da Amazônia, em 1979, em Porto velho, contra o Ferroviário. O segundo, jogando pela Seleção Acreana de Juniores contra a Seleção Brasileira da mesma categoria, em Rio Branco, no mesmo ano de 1979, no Estádio José de Melo (Acre).
“O jogo contra o Ferroviário me marcou pela violência de um lateralzinho chamado Raul Gil. O cara me deu um murro no primeiro lance e ainda disse que ia ter mais. Fiquei com medo e passei a jogar longe do sujeito. Quem resolveu a situação foi o nosso centroavante Irineu. Ele trocou de lugar comigo e deu um jeito de tirar o Raul Gil do jogo”, garantiu Roberto.
“Já o jogo contra a seleção brasileira, esse me marcou positivamente. Eles estavam se preparando para disputar um campeonato mundial. Só jogador de nome. Só craque. Aí nós encaramos as feras e ganhamos por um a zero, gol de pênalti do lateral-direito Sérgio Lopes. O nosso time jogou como nunca, por música. Saímos de campo orgulhosos”, falou Roberto.
Para finalizar, Robertoescalou a sua seleção acreana de todos os tempos: “Ilzomar; Mauro, Neórico, Cleiber e Tonho; Emílson, Mariceudo e Carlinhos Bonamigo; Paulinho Rosas, Gil e Neivo”. E não escondeu também a sua opinião sobre o melhor dirigente com quem trabalhou, citando Sebastião Alencar. “Ele era sério e tinha visão de futuro”, disse Ferraz.
(Texto originalmente publicado em Futebol Acreano em Revista – Edição nº 9 – Dezembro de 2019)