Praticamente ninguém no mundo contemporâneo anda sem a companhia de um celular. Esse instrumento se tornou peça indispensável da vida do homem e da mulher modernos. É mais fácil a gente botar o pé na porta da rua sem uma peça íntima do que sem esse adereço de comunicação.
E o mais interessante são as experiências que o aparelho nos proporciona. Seja a de falar com alguém que está no mesmo ambiente (e a gente não sabe, ou sabe e liga só pra ver a reação dele), seja para descobrir que uma criatura está num lugar bem diferente daquele em que deveria estar.
Num dia qualquer dessa semana, eu vivi essa situação de ligar para um amigo que eu pensava estar num lugar e o dito cujo estava em outro totalmente diverso. No caso, o presidente da Federação Acreana de Voleibol, João Petrolitano (o saudoso Campos Pereira só chamava “Petropolitano”).
É que eu havia lido em algum site que o João (ex-cabeça branca, agora mais careca do que uma bola de bilhar) iria chefiar uma delegação de voleibol num torneio na Itália. E então eu tive a ideia de falar pra ele dar uma esticada até ao Vaticano para pedir que o Papa me desse a sua bênção.
Aí eu liguei (pelo WhatsApp, é claro, para evitar o pagamento de uma chamada internacional) e já fui logo de cara tentando misturar palavras do meu português ruim com alguns vocábulos que eu decorei no tempo em que assistia faroestes “spaghetti” com Giuliano Gemma, Franco Nero e outros.
O João me respondeu com um questionamento. Disse ele: – O que é isso, meu chefe, que língua é essa mais doida, o senhor está me estranhando? E eu retruquei: – Estou só treinando o meu italiano, chefia. Aproveitando que a essa hora tu deves estar apreciando as belas pinturas da Capela Sistina.
Depois desse diálogo, eu ouvi uma sonora gargalhada, daquelas engolindo o ar peculiares do Petrolitano. Não entendi nada, até ele me dizer que não estava na Itália coisa nenhuma, mas sim no interior do Amazonas, em Itacoatiara, depois de enfrentar 260 Km de uma estrada cheia de buracos.
Aí veio a explicação para a mudança de roteiro. De acordo com o João, cujos primeiros passos no esporte foram como goleiro do Vasco da Gama, sob o comando do professor Almada Brito, ele trocou Roma por Itacoatiara para prestigiar o aniversário de um neto que mora na cidade amazonense.
É isso. Por conta do celular, eu descobri o paradeiro do meu dileto amigo. Por fim, como nada mais havia a declarar, eu apenas lhe desejei boa sorte com os buracos na viagem de volta, de preferência fazendo uso de um colete cervical… E que comesse uma boa peixada regada a pimenta Murupi.