Eu sou daqueles torcedores que gostam quando um clube considerado pequeno fura a hegemonia dos maiores e se coloca nos primeiros degraus de um pódio. Então, nesse sentido, já confesso logo de cara que me deixou imensamente satisfeito esse vice-campeonato acreano do São Francisco.
Durante muitas temporadas o São Francisco foi massacrado pelos clubes de maior poder aquisitivo. O chamado time católico, fundado pelo saudoso desportista Vicente Barata, nos idos da década de 1960, praticamente só entrava em campo para participar das diversas competições.
Os jogadores que vestiam a camisa do São Francisco não tinham remuneração. Muitos deles eram membros da própria família Barata. Casos do próprio Vicente e dos seus filhos Bismarck, Amarildo e Adherbal. Eram eles e mais uma meia dúzia de amigos ou garotos do bairro do mesmo nome.
Mas, de vez em quando, por alguma razão, jogadores consagrados preteridos pelos clubes mais fortes, batiam às portas dos “católicos”. Casos – vou lembrando enquanto escrevo – dos famosos artilheiros Ruy Macaco e Dodô, além do armador Zé Cláudio e dos laterais Nanico e Chico Alab.
Ruy Macaco, que brilhou com as camisas do Independência e do Atlético, como a história registra, foi o segundo maior artilheiro do Brasil em 1974, ficando atrás somente do centroavante Dario Maravilha. Pois esse atacante fenomenal um dia emprestou a sua bola ao time de Vicente Barata.
No caso do armador Zé Cláudio, ele simplesmente foi titular de todas as seleções acreanas dos anos de 1950. E quanto aos laterais Nanico e Chico Alab, boa parte dos títulos estaduais das décadas de 1960 e 1970 vencidos pelo Atlético Acreano e pelo Independência foram da responsabilidade deles.
Para ilustrar como muita gente boa de bola vestiu a camisa do São Chico, embora o time ficasse sempre na parte de baixo da classificação, mostro a escalação do time de 1976: Almiro; Chico Alab, Dango, Sucupira e Nanico; Barata, Bismarck e Dias; Melinho Elias, Madureira e Trebina.
E ressalte-se ainda que o clube chegou até a disputar um Copão da Amazônia, o de 1989, levando no elenco nomes como os de Aníbal Honorato (ex-Independência), Zenon (ex-Rio Branco), Neurimar, Leitão (o conhecido Moleque), Josué, Nego, Mário Jorge, Vela e Agamenon, entre outros.
Pra mim, o São Francisco sempre foi um “santo forte”. E só não chegou mais longe anteriormente por estar muito ocupado obrando milagres para os outros. Agora, com alguma estrutura e voltado mais para os seus próprios interesses, parece estar avisando aos incautos que o céu é o limite!